São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Custou muito, durou pouco

Custou muito e durou pouco. Assim pode ser definido o saldo positivo da balança comercial brasileira.
Para afastar os temores de que o Brasil seguisse o modelo mexicano, onde se levou ao limite a tentativa de financiar déficits comerciais com dinheiro externo de curto prazo, mas sem querer desvalorizar o real, o governo apostou no desaquecimento e na alta dos juros.
O desaquecimento, movido principalmente por restrições draconianas ao crédito e pelo sistema de recolhimentos compulsórios sobre os recursos dos bancos, permitiu uma redução das importações. O freio fez também uso de cotas e da elevação de tarifas.
A busca de superávits comerciais teve e tem ainda nos juros elevadíssimos outro componente importante. O exportador, animado com os ganhos da antecipação de contratos, vendeu o que podia. O juro alto compensou o câmbio atrasado.
Mas, diante do aumento de riscos para o sistema bancário, o arrocho dos compulsórios encontrou seu limite. Os juros altos provocaram uma sangria preocupante nas finanças públicas. E o desaquecimento, além de afetar grandes grupos empresariais, deixou na amargura inúmeros pequenos e médios empreendedores que se embalaram na euforia da estabilização.
Tremendo esforço, entretanto, que em boa medida justificava-se para reequilibrar as contas externas sem desvalorizar o câmbio, está mostrando muito cedo a sua insuficiência. Generaliza-se a percepção de que outubro será o último mês deste ano em que se verá um resultado positivo na balança comercial. Em 1996, o superávit voltaria apenas no segundo trimestre.
É possível conviver com déficits no comércio, se houver quem queira financiá-los. Nos últimos meses, entretanto, o governo colocou-se (e à sociedade) numa cilada: impôs o sacrifício, para uma recompensa muito pouco satisfatória.

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