São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Os retardatários da história

JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

No começo deste ano, tive a feliz oportunidade de conversar com um e reunir mais dois grandes especialistas da universidade brasileira para discutir o problema da remuneração do trabalhador. Debati o tema, de grande importância para mim, com os professores José Pastore, da USP, José Márcio Camargo e Francisco Barreto de Oliveira, da PUC do Rio.
A geração de novos empregos e a justa remuneração pelo trabalho produtivo ocupam permanentemente minha preocupação como empresário, parlamentar e duas vezes ministro, primeiramente da Indústria, do Comércio e do Turismo e agora da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária.
Chegam a ser obsessões. Pois acredito que o trabalhador precisa mesmo é do emprego para produzir e de um salário justo para viver de forma decente e dar casa, comida, saúde e educação para sua família. Tudo o que ajudar a aumentar o emprego e melhorar o salário merece ser apoiado. Ao contrário, o que erguer obstáculos para tal deve ser combatido.
Nesses encontros, os companheiros da Força Sindical, entre eles Luiz Antônio de Medeiros, Lúcio Belantani e Paulo Pereira da Silva, tiveram a oportunidade de debater com os especialistas citados, particularmente os dois últimos, saídas para um antigo e arraigado aliado brasileiro do desemprego, qual seja, o alto custo do salário.
Esse impasse tem uma face negra: o salário é alto quando sai do caixa da empresa, mas chega vil ao bolso do empregado. A substância mesma se perde pelo caminho.
Agora, tomo conhecimento de duas sugestões do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, para combater o desemprego, atirando no flanco aberto do custo do salário, que a empresa paga caro, mas chega muito barato na mão do trabalhador.
A primeira das idéias de Paulinho é a flexibilização da jornada de trabalho de maneira a adaptar a produção ao mercado. Ou seja, o operário trabalha menos quando o mercado demanda menos e mais quando o mercado demanda mais, sem ônus exagerado para o empresário.
A segunda, também criativa, pretende abrir o mercado de trabalho para os mais jovens, acusados de inexperientes, e os mais velhos, discriminados pela idade, tornando possível a contratação temporária de ambos os tipos de trabalhadores, reduzindo alguns encargos e o custo da demissão, previsto na letra da lei.
Mais do que buscar apoio, as propostas da Força Sindical devem servir de ponto de partida para um debate amplo e democrático, despido do preconceito ideológico e de vícios de natureza política, que normalmente corrompem esse tipo de discussão.
O trabalhador brasileiro merece ter acesso mais amplo ao mercado de trabalho e ser remunerado de forma mais justa. A empresa brasileira precisa de oxigênio para dar mais empregos e pagar melhores salários. Negar a abertura para a adoção das providências imaginadas por Paulo Pereira da Silva é condenar o país à paralisação do desenvolvimento. O trem da história não vai esperar os retardatários.

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