São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995 |
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Relatório condena trabalho infantil no Brasil
GILBERTO DIMENSTEIN
Motivo do relatório: no Congresso americano, parlamentares pressionam para que os EUA boicotem produtos importados feitos com mão-de-obra infantil. Durante dois anos, o Ministério do Trabalho norte-americano fez uma investigação mundial sobre os produtos agrícolas e minerais exportados aos Estados Unidos. Com três milhões de crianças trabalhando no campo, muitas delas em regime de escravidão ou semi-escravidão, o Brasil aparece com destaque -até porque é um importante exportador. O texto é baseado em estudos feitos por brasileiros e em investigação paralela da embaixada dos EUA em Brasília. E, agora, vai ser entregue ao Congresso, onde cresce um movimento para proteger empregos domésticos e aumentar barreiras alfandegárias. A investigação é dividida por regiões e produtos. O critério para entrar no relatório é se exporta ou não para os EUA. Em 1994, os americanos importaram do Brasil US$ 5 milhões em suco de uva e US$ 7 milhões em vinho. O texto afirma que, em Petrolina (PE), uma criança ganha aproximadamente U$ 2,00 colhendo uvas, em média, 150 caixas por dia. Ao fim do dia de trabalho, o corpo das crianças, segundo o relatório, está manchado devido aos pesticidas. Em Tabatinga, interior de São Paulo, 15% dos 70 mil colhedores de frutas são crianças abaixo dos 14 anos. Recebem US$ 3,00 por 14 horas. Qualquer quantia é suficiente para se incluir um país no relatório. Em 1994, o Brasil exportou apenas U$ 9.000 em sisal. Por isso, é informado que 25% dos trabalhadores de sisal na Bahia são crianças; alguns com até 4 anos de idade. Muitos sofrem de asma devido ao contato com a fibra. Há, entretanto, setores economicamente mais expressivos. Um grande espaço é dado às plantações de cana-de-açúcar -56% das crianças reportaram algum tipo de acidentes. Na média, elas trabalham 40 horas por semana, acordam às 4h da manhã e vão trabalhar em jejum. O relatório afirma que as crianças brasileiras nas plantações de chá (exportação de US$ 4 milhões aos EUA) são intoxicadas com pesticidas. A comida que recebem é descontada do salário, o que caracteriza trabalho forçado. O pesticida também afeta os trabalhadores infantis da indústria do fumo (US$ 146 milhões exportados aos EUA). Esse problema ocorreria, principalmente, em Santa Cruz do Sul, interior do Rio Grande do Sul. No Acre, os trabalhadores assinam contrato se comprometendo a comprar alimentos apenas do fazendeiro a preços mais altos. Segundo o relatório, no Mato Grosso do Sul, 1.000 trabalhadores foram descobertos, em uma única fazenda, em regime de escravidão nas carvoarias -do total, 400 tinham menos de 14 anos. Texto Anterior: Sem-terra comemoram, mas rejeitam trégua Próximo Texto: RETRATOS DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL Índice |
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