São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Antropóloga analisa fast-food

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO A CAXAMBU

Quem acha repugnante o gosto dos hambúrgueres servidos nas cadeias de fast-food tem agora mais um argumento para provar a tese: a antropóloga Carmen Rial concluiu que o que realmente se come não é a comida, mas sim uma imagem.
"As cadeias de fast-food fazem sucesso porque compreenderam a importância da imagem. Não foi à toa que o primeiro emprego dos irmãos McDonald foi no cinema pastelão em Hollywood", diz.
Para observar o universo dos hambúrgueres, a pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina -uma das raras especialistas brasileiras em antropologia alimentar- trabalhou por três meses na cadeia francesa Quick.
"Meu primeiro dia foi horrível", diz ela, que teve de se acostumar com um processo de produção de sanduíches taylorista e fordista (gestos repetitivos e produção em massa).
Mesmo na França, um país hostil a palavras estrangeiras, os fast-foods têm nomes em inglês. A imagem que se come é a do modo de vida americano.
O surpreendente no sucesso dos fast-foods é a resistência cultural que as pessoas normalmente têm para experimentar comidas novas. É mais fácil para imigrantes mudarem o vestuário e a própria língua que trocarem a comida a que estão acostumados.
Depois que passa o período inicial de ansiedade de experimentar algo -e quem entra em uma lanchonete dessas tem de aprender novas regras, como pedir comida, comer com as mãos etc.- o fast-food passa a ser algo que dá segurança.
Rial descobriu que turistas são frequentadores habituais de cadeias como a McDonald's. Eles procuram o que conhecem.

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