São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor fez mais de 500 entrevistas para o livro

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Aviso de Ruy Castro a editores e leitores: "Até o ano 2001 não quero me meter em outra biografia. É muito cansativo".
Para concluir, em "Chega de Saudade", que o gato de João Gilberto não se suicidou de tanto ouvir o músico tocar os mesmos acordes, entre outras lendas, Ruy Castro entrevistou 104 pessoas.
Para contar, em "Anjo Pornográfico", como Nelson Rodrigues descobriu que só as mulheres normais gostam de apanhar, entre outras, Ruy ouviu 125 pessoas.
Dessa vez, para comprovar, entre outras coisas, que Garrincha nasceu no dia 28 de outubro, dez dias depois do que registra a sua certidão de nascimento, o jornalista entrevistou 170 pessoas.
Como conversou mais de uma vez com quase todas, Ruy afirma ter feito mais de 500 entrevistas para compor o perfil de Garrincha.
"Quando estou fazendo uma biografia, assumo o compromisso de todo dia aprender duas ou três coisas novas sobre o personagem. Isso é muito estafante", diz Ruy, explicando por que não pretende escrever outra biografia tão cedo.
O jornalista passou dois anos e meio envolvido na realização de "Estrela Solitária". Nos primeiros três meses, leu todas as notícias sobre Garrincha guardadas em arquivos de jornais e revistas.
Arquivou centenas de nomes que apareciam, mesmo que só uma vez, na vida de Garrincha.
Nesse momento, Ruy se considerou pronto para começar a fazer entrevistas "e reagir a qualquer coisa que não soubesse".
O biógrafo adota como norma sempre anotar um nome citado que não conhece. "Daqui a seis meses, alguém vai citar esse nome de novo e já vou saber do que se trata."
Ruy também tem o hábito de jamais gravar entrevistas. "Os melhores entrevistados são normalmente os coadjuvantes da história, as pessoas que estão nos bastidores. E essas pessoas, que não têm o hábito de dar entrevistas, se inibem diante do gravador."
Ruy começou sua pesquisa pelos jogadores contemporâneos de Garrincha no Botafogo. Levou seis meses até achar Araty, o jogador que descobriu Garrincha num campo de pelada em Pau Grande.
Segundo Ruy, diante das lembranças, a primeira reação de todos os que conviveram com Garrincha era muito parecida ao mito que se construiu em torno do jogador: "Coitado, era como um passarinho. Morreu esquecido".
O jornalista esperou um ano para procurar Elza Soares, que conviveu 15 anos com Garrincha. "Não queria chegar despreparado, mas mesmo assim ela não cansou de me surpreender."
Ao final, entrevistou Elza pessoalmente seis vezes e teve incontáveis conversas com ela por telefone -a certa altura do livro, falava com a cantora diariamente.
Nem todas as informações puderam ser totalmente confirmadas. Ao descrever o apetite sexual de Garrincha, Ruy Castro deixou escapar alguma empolgação e escreveu, com exagero, que o "bráulio" do jogador media por volta de 25 centímetros.
A média do brasileiro é de 14 centímetros e os urologistas consideram casos raros os pênis de 21 centímetros. "Chegaram a me falar em 28, mas devia ter perguntado a um médico", admite Ruy.
Irresistível para quem torce pelo Botafogo, a biografia de Garrincha deve agradar a outros torcedores.
Ao descrever a arrasadora estréia de Garrincha na Copa de 58, contra a Rússia, Ruy Castro, torcedor do Flamengo, escreve: "A partir daquele dia, deixaram de existir botafoguenses, tricolores, rubro-negros, gremistas ou corintianos puros. Todos passariam a ser Garrincha, mesmo quando ele jogasse contra seus clubes".
(MSy)

Texto Anterior: O ANJO EMBRIAGADO
Próximo Texto: Um passarinho de vôo curto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.