São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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"O mal não tem sexo", rebate Silvio de Abreu

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O autor de "A Próxima Vítima", Silvio de Abreu, não concorda com as críticas das feministas.
"Isabela levou uma facada no rosto porque é a vilã da história. Só por isso. Em um folhetim, o vilão precisa sofrer para que o público se delicie. Punir Isabela representa punir o mal. E o mal não tem sexo", afirma Abreu.
O novelista lembra que, em 1990, quando escreveu "Rainha da Sucata", também castigou o vilão de maneira exemplar. "Era um personagem nefasto, adúltero como Isabela, mas do sexo masculino. Chamava-se Renato Maia e morreu queimado."
Para provar que não guarda "rancor de mulheres liberadas", o escritor cita outro personagem de "A Próxima Vítima". Helena (Natália do Vale) viveu durante anos um casamento incomum, que não se baseava em fidelidade sexual. "Ninguém, na novela, a puniu por causa deste comportamento", ressalta Abreu.
O autor afirma, ainda, que a facada em Isabela despertou a revolta de Carmela (Yoná Magalhães) e Filomena (Aracy Balabanian).
"Ambas condenaram firmemente a agressão." No capítulo 169, Filomena perguntou: "Com que direito se pratica uma violência como aquela contra um ser humano?"
Em outro capítulo, o 170, Carmela foi à polícia e denunciou Marcelo. "Ele tentou matar Isabela com uma faca. Cortou o rosto dela duas vezes. Os braços também, uma coisa horrível!", contou para o investigador Olavo (Paulo Betti).
Silvio de Abreu pondera, por fim, que ferir a vilã na cara não significa estimular o preconceito de que o bem feminino mais valioso é a beleza. "Significa que estou brincando com um clichê do cinema americano. Vi muitos filmes policiais em que mulheres têm uma cicatriz na face."
Como exemplo, aponta "Os Corruptos" (Big Heat), do diretor Fritz Lang. No longa-metragem de 1953, o ator Lee Marvin queima o rosto da personagem interpretada por Gloria Grahame e a desfigura para o resto da vida.
(AA)

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