São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Secretário descarta renúncia

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico baiano radicado em São Paulo Cândido Vaccarezza, 40, é o pivô da crise. Secretário-geral do partido, teve sua substituição pedida por 24 dos 49 deputados federais do PT. Em entrevista à Folha, Vaccarezza descarta a renúncia:

Folha - Como o sr. analisa a "carta aberta" de deputados pedindo a sua substituição por alguém das correntes de esquerda e extrema esquerda do partido?
Cândido Vaccarezza - É lamentável. O PT está na ofensiva política contra o governo e um grupo de deputados leva a luta interna para a bancada.
Folha - Mas o sr. não admite que é um manifesto expressivo?
Vaccarezza - Sem dúvida. Estamos interessados em chegar a um acordo, mesmo que seja inédita a atitude do outro grupo de se retirar de uma instância, como eles fizeram.
Folha - O sr. pensa em renunciar?
Vaccarezza - Essa questão não está posta. Fui eleito secretário-geral pela maioria do diretório. Causo problema pelo peso do cargo e pelo fato de o PT ter discussões polêmicas.
Folha - O seu grupo foi para o centro petista?
Vaccarezza - Eu diria que muita coisa aconteceu desde 93. Tínhamos um projeto, perdemos as eleições, e o Brasil é outro. Está em curso o projeto neoliberal, e o PT precisa ter uma outra política para enfrentar essa conjuntura.
FHC não é igual a Collor. O partido tem de apresentar alternativas globais e projetos pontuais à sociedade.
Folha - É possível dirigir o PT sem o bloco de esquerda e extrema esquerda?
Vaccarezza - Possível tudo é, mas não é desejável, e não é esse o sentimento da maioria do partido. Queremos incluir todos os companheiros na direção.
Folha - Existem diferenças entre as presidências de Lula e José Dirceu?
Vaccarezza - Lula foi presidente todas as vezes como unanimidade. Por isso, era obrigado a contemporizar com todas as partes e ter responsabilidade diferente de um presidente que é eleito a partir de uma política.
Como sua figura por si só tem um peso grande, a fala de Lula poderia funcionar como a palavra final do partido. Agora nós temos um presidente mais orgânico, saído de debate político, com disputa e com a função de executar uma determinada política.
Lula é a referência do PT. Não sendo mais presidente, está mais livre para dizer o que pensa e eventualmente ouvir o que não queira ouvir. Nesse sentido, o PT tem hoje um clima de debate superior ao que tínhamos antes.
(CEA)

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