São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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O novo paradigma da economia - 5

LUÍS NASSIF

Em sua coluna dominical na Folha, o industrial Antonio Ermírio de Moraes foi bastante crítico em relação à internacionalização do mercado financeiro e ao papel predador do capital internacional.
Certamente tinha em mente o quadro interno atual, com os lucros extraordinários proporcionados pela mera aplicação em títulos públicos.
A coluna compartilha das críticas do empresário em relação a essa situação, mas permite-se levantar outros ângulos do tema. A globalização financeira, em si, não é um mal. Depende apenas da maneira como o país se prepara para acolher esse dinheiro.
Dentro dos limites do legal, ao capital interessa a rentabilidade, não a forma de conquistá-la. Pode ser investindo em empresas locais, ou simplesmente adquirindo títulos públicos. Quem define a maneira do capital atuar é o país hospedeiro.
Na maior parte do mundo civilizado, as taxas de juros dos títulos públicos deixaram de ser atrativas.
As grandes fontes de rentabilidade do capital internacional passaram a ser os mercados de derivativos (onde, apesar do alto componente especulativo, cumpre função econômica relevante, financiando a outra ponta, do não-especulador) e a compra de ações de empresas.

Lucro legítimo
Há quem se arrepie com a possibilidade de esse capital entrar no país e ganhar rios de dinheiro comprando ações de empresas nacionais depreciadas pelas altas taxas de juros.
De fato, a lógica desse capital especulativo é adquirir ações baratas, que disponham de bom potencial de valorização.
Não lhe interessam ações de empresas pequenas, nem de empresas consolidadas, sem perspectivas de crescimento. O capital bamburra quando adquire ações de uma empresa pequena que, com a injeção de capital, passa a ser grande. Nesse caso, pode obter lucros extraordinários.
Muitos nacionalistas de velha cepa considerarão que esse capital especulativo tratou as empresas brasileiras como os gringos nos tempos de Batista tratavam as mocinhas cubanas.
O próprio presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, foi bastante criticado ao acenar na Alemanha com as belíssimas perspectivas de rentabilidade da economia brasileira.
Mas aí trata-se do lucro legítimo -por maior que possa ser-, mesmo que o capital simplesmente injete dinheiro, aguarde a valorização para vender, fazer lucro e ir bicar em outra freguesia.
Se pegou uma empresa valendo dez e deixou a empresa valendo cem, significa que ela realizou seu potencial de valorização.
Já terá dimensão suficiente, familiaridade com o mercado de capitais e será conhecida do circuito do capital mais estável para prosseguir financiando seu crescimento com capital de risco.
Portanto esse capital especulativo é essencial para entrar na frente, abrindo mercados e correndo riscos, para que as empresas beneficiárias tenham a oportunidade de crescer a ponto de poderem ingressar no mercado do investimento internacional mais estável.
A questão é que poderiam entrar a um custo muito mais barato para o país, não fosse a extraordinária irresponsabilidade da política monetária.

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