São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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São Paulo também tem baile funk

RONALDO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem rock, nem brega: os teens paulistas elegeram o funk como som da moda e transformaram os bailes black na febre do momento.
Os números são tão elevados quanto a temperatura das pistas de dança. Nos fins de semana, os bailes chegam a atrair cerca de 800 mil adolescentes, que lotam quase 300 clubes espalhados pela Grande São Paulo, segundo os donos de equipes de som -responsáveis pela sonorização.
Embora tenham surgido no rastro do sucesso do funk no Rio, os bailes em São Paulo são diferentes. Os bailes cariocas só tocam funk -na verdade, o eletro-funk, gênero musical criado com a inserção de batidas eletrônicas no funk original, ritmo com ênfase no suingue, surgido nos anos 70.
Em São Paulo, os bailes tocam outras variações de música eletrônica de origem negra -como o charm (um eletro-funk mais lento e melódico) e o rap (eletro-funk mais acelerado). Por isso, são chamados de bailes black.
Para Adriana Estrela, que promove bailes em duas casas noturnas, há diferenças também entre os frequentadores. "No Rio, o pessoal vai mais pela diversão mesmo. Em São Paulo, o interesse é pela música, pelo ritmo, pelo lado mais cultural."
Numa coisa, pelo menos, as duas capitais se equivalem: retorno financeiro. No Rio, a arrecadação mensal dos bailes beira R$ 8 milhões, segundo Rômulo Costa, presidente da Liga das Equipes de Som do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, baile black é um negócio tão rentável que virou até opção de vida. É o caso da Kátia Santos, 18, que passou a viver exclusivamente do ofício de DJ (disk-jóquei). Ela troca cada noite de seu fim-de-semana por R$ 700 -preço que cobra por participação em um baile.
Para o DJ Rodrigo Teixeira, 18, os bailes estão fazendo sucesso por serem um tipo de diversão que está "ao alcance de todos".
"É um movimento que está ganhando bastante adesão em todas as classes sociais. É muito misturado, vai quem tem grana e quem não tem, é bem democrático."
Os frequentadores, que pagam entre R$ 2 e R$ 3 para entrar nos bailes, concordam com o DJ.
"Quem gosta de funk, gosta de ir aos bailes de sexta a domingo. E isso só é possível se o ingresso for barato. Se bem que, quando tem algum show, os clubes enfiam a faca: cobram R$ 5 ou R$ 6 de entrada", diz Nadja da Silva, 15, que não perde um baile no Tio Sam Club.

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