São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Wooster mergulha em O'Neill

NELSON DE SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O grupo Wooster, da diretora Elizabeth LeCompte, que esteve em São Paulo meses atrás com uma produção no teatro Sesc Anchieta, está de espetáculo novo, ou quase. "The Emperor Jones", de Eugene O'Neill, já conta algum tempo em cartaz, mas a diretora não considera o espetáculo pronto.
Trata-se, diz ela, de uma obra-em-progresso. Uma montagem que ainda não está acabada e não está desimpedida para apreciação. O grupo chegou a solicitar, não sem alguma pressão, ao crítico da Folha para não escrever sobre a montagem, mas acabou cedendo por se tratar do Brasil, por não se tratar de texto longo etc.
Não é difícil de entender o estranho pedido -estranho por estar o espetáculo em temporada. "The Emperor Jones" é um grande passo do Wooster em direção bem diversa daquela que se conheceu até aqui, do grupo.
São apenas dois atores em cena, contra as produções anteriores de grande companhia. A televisão segue presente, mas em momento algum ganha o primeiro plano, servindo antes como parte da cenografia estática do que como o elemento dinâmico das outras produções.
E a ação se concentra inteiramente nos atores, em sua voz e no texto, que é respeitado -por inesperado que seja, em se tratando de uma companhia famosa por colagens pós-modernas de dramaturgia.
Uma das obras esquecidas de O'Neill, "The Emperor Jones", de 1920, faz uma grotesca e engraçada caricatura de um negro autonomeado imperador, envolvido em traições palacianas, fuga, morte na selva.
É uma aberta tentativa de encontrar um caminho diverso para o retrato do negro nos Estados Unidos. Um retrato diferente das imagens racistas mas também diferente da nova história negra, que é uma imagem de perfeição. Para tanto, o imperador é feito por uma atriz branca, pintada de preto, Kate Valk.
Mas a estrela é mesmo a palavra, um quase dialeto negro que Eugene O'Neill escreveu com genialidade e Kate Valk explora com enlevo.
(NS)

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