São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995 |
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Wooster mergulha em O'Neill
NELSON DE SÁ
Trata-se, diz ela, de uma obra-em-progresso. Uma montagem que ainda não está acabada e não está desimpedida para apreciação. O grupo chegou a solicitar, não sem alguma pressão, ao crítico da Folha para não escrever sobre a montagem, mas acabou cedendo por se tratar do Brasil, por não se tratar de texto longo etc. Não é difícil de entender o estranho pedido -estranho por estar o espetáculo em temporada. "The Emperor Jones" é um grande passo do Wooster em direção bem diversa daquela que se conheceu até aqui, do grupo. São apenas dois atores em cena, contra as produções anteriores de grande companhia. A televisão segue presente, mas em momento algum ganha o primeiro plano, servindo antes como parte da cenografia estática do que como o elemento dinâmico das outras produções. E a ação se concentra inteiramente nos atores, em sua voz e no texto, que é respeitado -por inesperado que seja, em se tratando de uma companhia famosa por colagens pós-modernas de dramaturgia. Uma das obras esquecidas de O'Neill, "The Emperor Jones", de 1920, faz uma grotesca e engraçada caricatura de um negro autonomeado imperador, envolvido em traições palacianas, fuga, morte na selva. É uma aberta tentativa de encontrar um caminho diverso para o retrato do negro nos Estados Unidos. Um retrato diferente das imagens racistas mas também diferente da nova história negra, que é uma imagem de perfeição. Para tanto, o imperador é feito por uma atriz branca, pintada de preto, Kate Valk. Mas a estrela é mesmo a palavra, um quase dialeto negro que Eugene O'Neill escreveu com genialidade e Kate Valk explora com enlevo. (NS) Texto Anterior: Pinter volta à Broadway Próximo Texto: 'Picasso' encontra Elvis Índice |
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