São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Fidel é recebido como herói no Harlem

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O presidente de Cuba, Fidel Castro, virou a maior estrela das comemorações dos 50 anos da ONU após discursar para 1.600 pessoas anteontem à noite, na Abyssinian Baptist Church, no Harlem (Nova York).
Apesar de só ter recebido visto de permanência de cinco dias e de não ter sido convidado para as recepções organizadas pelas autoridades norte-americanas, Fidel foi tratado como herói no Harlem.
Ele ficou no bairro (de população majoritária negra) por quase três horas. A igreja estava lotada, e ele foi interrompido várias vezes por causa dos aplausos.
Entre os que assistiram a seu discurso, estavam a ativista negra Angela Daves e o deputado Charles Rangel, do Partido Democrata de Nova York.
O convite para que Fidel falasse na igreja foi feito pela Fundação Inter-religiosa para Organização de Comunidades, que luta contra o embargo comercial imposto pelos EUA a Cuba.
Fidel criticou o embargo e reclamou do tratamento que recebeu do prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, e do presidente dos EUA, Bill Clinton.
Ele se referiu ao fato de não ter sido convidado para os jantares de gala oferecidos por Giuliani no sábado e por Clinton no domingo.
"O prefeito disse que eu sou um demônio e que um demônio não deveria ser convidado para jantar. Mas então como ele explica o fato de eu ter sido convidado para jantar por uma uma família abastada e um grupo de empresários? Há um paradoxo aí", afirmou, num dos momentos em que foi mais aplaudido.
Ao contrário do discurso feito na ONU, marcado por acusações sutis, Castro foi enfático ao criticar o embargo comercial a Cuba.
"Não é justo usar esse tipo de arma, porque é o povo quem termina sofrendo as consequências."
Também foi aplaudido quando ofereceu voluntários cubanos para ajudar os pobres dos EUA.
"Se algum dia os EUA precisarem de médicos, garanto que nós temos os melhores. Teria o maior prazer em mandá-los para tratar da população que não pode pagar os hospitais caros daqui."
Fidel também destacou a luta de Cuba contra o racismo na África do Sul. "Por 15 anos lutamos contra o apartheid. Ajudamos países sem nos importarmos se mantínhamos relações diplomáticas ou não."
O namoro do presidente cubano com o Harlem começou em 1960, quando foi expulso de um hotel no centro de Manhattan e terminou buscando refúgio no Hotel Thereza, que funcionava no Harlem.
Na época, o dono do Shelbourne Hotel alegou que Castro foi expulso porque queria cozinhar uma galinha viva em seu quarto. Segundo ele, a comitiva cubana deixou um prejuízo de US$ 10 mil.
Antes de falar na igreja, Fidel Castro visitou o Hotel Thereza, hoje transformado num prédio residencial.

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