São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Viagem radical

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - Acidentes neste final de semana deixaram cerca de 30 mortos e a confirmação de que as estradas do país são arapucas abertas para novas vítimas.
Viajar de carro ou ônibus é uma aventura, por mais trivial que possa parecer o passeio. Verdadeiro turismo de risco, pois são conhecidos e gritantes os problemas da maior parte das estradas nacionais.
Além dos buracos, das pistas sobrecarregadas, das "curvas da morte", que denunciam crimes de engenharia, há ainda falta de policiamento, estimulando o transporte clandestino e os motoristas imprudentes.
Com pouco investimento em novas obras ou, o que é o mínimo, em conservação das obras já existentes, a chamada malha viária está se transformando em mortalha.
A resposta do governo para esse cenário de caos é falar que pouco se pode fazer com a escassez de recursos. A saída, que já se tornou usual nesse tipo de discurso, é apelar para o milagre da privatização.
A convivência bovina da sociedade com o problema permite esse falseamento da realidade, onde as soluções são adiadas. Prontos para o matadouro, os cidadãos só se dão conta do perigo quando estão sobre o cadafalso.
Habituados à pouca pressão, os governantes vão empurrando a questão para as gestões futuras. Enquanto isso, verbas orçamentárias vão sendo empregadas em projetos e despesas não-prioritárias.
Governantes são eleitos para gerir com eficiência a coisa pública. Devem ser cobrados com a mesma firmeza que o consumidor deveria usar para exigir produtos de qualidade.
As estradas do país não podem mais esperar. Se este já foi o país no qual governar era abrir estradas, é urgente hoje que pelo menos se faça alguma coisa para conservá-las.

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