São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Governistas aprovam fim da estabilidade

GABRIELA WOLTHERS; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo conseguiu ontem aprovar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara o artigo que acaba com a estabilidade dos atuais funcionários públicos.
O dispositivo, que consta do projeto de emenda constitucional do governo, permite a demissão dos atuais servidores por insuficiência de desempenho e excesso de quadro.
A vitória foi apertada e aponta dificuldades para o governo nas próximas etapas da tramitação. Os governistas obtiveram 27 dos 51 votos (um a mais que o necessário) para rejeitar a emenda do relator Prisco Viana (PPB-BA). Ele defendia que as demissões só poderiam atingir os servidores que fossem contratados após a promulgação do texto.
Com a garantia de manutenção da proposta original obtida ontem, o governo tentará incluir na comissão especial, próxima etapa da emenda, o acordo fechado na segunda-feira com os líderes do PFL, PMDB, PSDB e PTB.
O acerto estipula regras para a demissão por excesso de quadros. Afirma que os governos só poderão utilizar esse tipo de dispensa caso tenham ultrapassado o teto legal de 60% das receitas com o pagamento do funcionalismo.
Também estipula que o ajuste deve ser feito até o final de 1998 e que as exonerações seguirão uma ordem: em primeiro lugar, serão dispensados os funcionários que não possuem estabilidade -os que prestaram concurso público serão os últimos a serem demitidos.
O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), tentou convencer ontem Prisco Viana a incluir o acordo em seu parecer. Ele não aceitou. Argumentou que não se tratava de matéria constitucional.
Apesar de todo esforço do governo, 12 dos 40 deputados da base governista votaram a favor da manutenção da estabilidade dos atuais servidores. O presidente da CCJ, deputado Roberto Magalhães (PFL-PE), resolveu se abster.
O PPB, partido do relator, conseguiu superar o PMDB em número de dissidentes. Seis dos 8 deputados do partido votaram contra o governo. O PMDB teve 5 rebeldes em seus 11 votos na CCJ.
O bloco PFL-PTB registrou a dissidência do deputado Vicente Cascione (PTB-SP). "Não voto com o governo, voto com a minha consciência" , disse.
Luiz Carlos Santos comemorou o resultado: "A vitória significa que ninguém mais segura a reforma. Hoje ficou bem claro que o país será mudado", afirmou.
A CCJ votou ontem cinco emendas apresentadas por Prisco. O governo conseguiu derrubar quatro delas, preservando o texto original enviado ao Congresso.
A única emenda aprovada foi a que considerava inconstitucional a reserva de até 20% das vagas dos concursos públicos para servidores que já trabalham para o Estado.
A inconstitucionalidade foi apontada pelos próprios governistas. O bloco PFL-PTB votou unido a favor de Prisco. Eles alegaram que este item criava uma "reserva de mercado" para os funcionários.
Hoje devem ser votadas outras 15 emendas apresentadas pelo relator. A mais importante é a que afirma que ninguém poderá receber remuneração, pensão ou aposentadoria maior do que a do presidente da República. O relator a considerou inconstitucional.
Após a CCJ, o projeto da reforma administrativa será analisado por uma comissão especial, que poderá modificar o texto.
Em seguida, terá de ser votado em dois turnos pelo plenário da Câmara. Caso seja aprovado por 60% dos deputados (308 votos), ele será enviado ao Senado, onde seguirá tramitação semelhante à da Câmara, antes de ser votado.
O ministro Bresser Pereira (Administração) divulgou ontem uma nota em que elogia a aprovação do fim da estabilidade pela CCJ.
"Mais uma vez, fica demonstrado o espírito público do Congresso, sua capacidade de refletir os anseios e sentimentos da sociedade brasileira, seu compromisso com as reformas empreendidas pelo governo e sua determinação em modernizar o Estado e valorizar os servidores", escreveu o ministro.

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