São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Indústria quer 3,5 milhões de linhas

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

As grandes indústrias de equipamentos de telecomunicação instaladas no país entregaram ao Ministério das Comunicações uma proposta para eliminar o déficit de linhas telefônicas nas capitais até o final do governo FHC.
O documento prevê a instalação, com recursos privados, de 3,5 milhões de telefones em três anos. O custo total do projeto é estimado em US$ 6,3 bilhões.
Segundo o documento, obtido pela Folha, dois terços do custo do projeto, equivalentes a US$ 4 bilhões, seriam bancados pelos próprios usuários, que comprariam os telefones pelo preço oficial dos planos de expansão da Telebrás: R$ 1.117,63 por linha.
O restante dos recursos (US$ 2,3 bilhões) seria financiado por consórcios de empresas privadas -fornecedores de equipamentos e empreiteiras-, que seriam contratadas pelas telefônicas estatais por meio de concorrência.
O documento foi entregue ao governo há dez dias por uma comitiva composta de representantes da Alcatel, Pirelli Cabos, Ficap, Ericsson, NEC, Promon e Splice do Brasil. Até agora, o Ministério das Comunicações não comentou a proposta.
As reuniões para elaboração da proposta foram feitas na sede da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica).
Pelas projeções da indústria, existe hoje uma escassez de 1,6 milhão de telefones na cidade de São Paulo. A cidade do Rio de Janeiro é a segunda em pior situação no país -déficit estimado de 500 mil linhas telefônicas.
O documento dos empresários diz que não faltam recursos para financiar o pleno abastecimento do mercado brasileiro, e que o país pode repetir o exemplo da Argentina e do México, que conseguiram eliminar seus déficits de telefonia em apenas quatro anos.
A idéia básica do projeto é a seguinte: o setor privado instalaria toda a infra-estrutura para as ligações locais e as estatais implantariam os sistemas de ligações interurbanas.
Pela avaliação das indústrias, as redes locais poderão ser implantadas com um custo médio equivalente a US$ 1.800 por telefone.
Os assinantes bancariam cerca de US$ 1.200 por linha (preço dos planos de expansão), com pagamento parcelado durante a fase de instalação. As indústrias se comprometem a conseguir empréstimos no exterior.
Pela fórmula apresentada, os empréstimos externos seriam pagos com receita gerada pelas novas linhas, e os consórcios empresariais dariam garantias bancárias às telefônicas, correspondentes ao valor pago pelos assinantes.
Ao formular tal proposta, a indústria de telecomunicações busca também uma alternativa para reativar a produção no setor. A Ericsson, segundo afirma seu presidente, Carlos Paiva Lopes, está com ociosidade de 50% em sua linha de produção de centrais telefônicas, por falta de encomendas.
A Pirelli Cabos, outra grande empresa a endossar o documento, está com 70% de ociosidade, segundo o diretor-superintendente da empresa, Pio Gavazzi. Gilberto Garbi, presidente da NEC, diz que a proposta foi aprovada por mais de 30 empresas.
Para Garbi, se o governo concordar com o plano, as filas de espera e o mercado paralelo nas capitais serão eliminados.
"Há quatro anos, Buenos Aires tinha um déficit de telefones pior do que o de São Paulo. Hoje, o prazo de entrega, em alguns bairros, é de uma semana. A indústria se compromete a fazer o mesmo no Brasil", diz Garbi.
Ontem, no programa semanal "Palavra do Presidente", Fernando Henrique Cardoso afirmou que o governo não vai mais cuidar sozinho das comunicações, e que as empresas privadas "podem participar e investir no setor".

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