São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Desemprego terá saída dolorosa, diz Toffler

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O futurólogo e escritor norte-americano Alvin Toffler disse ontem, no Rio, que a busca de uma solução para o desemprego estrutural das sociedades modernas será "um processo extremamente doloroso" e que "haverá turbulência social" antes que problema seja resolvido.
Toffler, 66, é o autor do best-seller "A Terceira Onda", livro que define o momento atual como direcionado pelo conhecimento e a informática, em oposição à segunda onda (revolução industrial) e à primeira onda (fase agrícola).
Em entrevista durante seminário promovido pela Universidade Gama Filho, Toffler previu que os futuros conflitos sociais podem surgir de uma "revolta dos ricos" contra a pobreza que os cerca.
Ele afirmou que a China é potencialmente o principal foco de um conflito tipo, que poderá se tornar o estopim de uma Terceira Guerra Mundial. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

DESEMPREGO
Seria até ingênuo pensar que a realocação dos desempregados remanescentes da era industrial na era da informática continuará ocorrendo de maneira suave como vem se dando até agora, afirmou. Ele afirmou não ter pessoalmente uma receita para o problema.
A saída de fazer ajustes macroeconômicos para promover o crescimento e gerar vagas para os desempregados simplesmente não é viável, porque empregos criados nos padrões da terceira onda não são alternativas para desempregados da segunda onda.
Toffler sinaliza que o caminho é a educação para as novas práticas econômicas, mas ao mesmo tempo questiona o programa de reciclagem de trabalhadores que o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, busca implantar. Argumenta que, quando o trabalhador termina a reciclagem, as exigências do mercado já são outras.
Toffler disse que, quando se sente muito pessimista, busca na sua estante um livro com a história do desemprego em 500 anos. Ali, ele percebe que a humanidade sempre conviveu com o desemprego, apesar de sucessivas políticas de combate.

BRASIL
Toffler disse que convivem no Brasil situações de primeira, segunda e terceira onda, além de grandes desigualdades regionais. Mas afirmou não ter "um plano para o Brasil" nem para os EUA.

CHINA
Toffler disse que a China possui cerca de 700 milhões de pessoas no interior vivendo a primeira onda, enquanto crescentes populações urbanas entram na era industrial e alguns bolsões de riqueza já vivem a terceira onda. Essa situação cria um caldo de cultura "extremamente perigoso", que pode explodir em desobediência dos ricos em relação ao governo.

MEGAEMPRESAS
O processo de fusões que está criando megaempresas nos Estados Unidos é uma "guerra de egos" entre os grandes produtores e "alguns" irão fracassar.

PIB
Os economistas "estão medindo com precisão cada vez maior fatores de cada vez menor importância". Uma dessas medidas erradas, segundo ele, é o cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). Esse cálculo não estaria levando em conta, entre outros fatores, as transações intrafamiliares, o trabalho doméstico e a economia informal.

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