São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Você sabe que há uma revolução quando...

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Neste mês, completarei 40 anos, metade dos quais passei em um único emprego: a direção da Microsoft.
Paul Allen e eu fundamos a empresa há 20 anos, depois de escrever a primeira adaptação da linguagem de computador "Basic" para um microprocessador.
Foi também por volta de 1975 que teve início a revolução dos computadores pessoais.
Essa revolução ainda está acontecendo, liderada por empresas que correm ao máximo para tornar obsoletos seus próprios produtos e não perdem muito tempo olhando para trás.
Elas reconhecem que os desafios do futuro são mais interessantes que os sucessos do passado.
A Microsoft não é exceção a essa regra. Nossa tendência é muito mais de comemorar novas iniciativas do que nossas conquistas passadas.
Mas o marco dos 20 anos da indústria dos microcomputadores parece ser um momento apropriado para reflexão e comemoração.
A Microsoft cresceu e se transformou em uma empresa global -com 18 mil funcionários-, e a indústria dos computadores pessoais se transformou em uma das mais importantes no mundo.
Acho que a revolução começou no final de 1974, quando Ed Roberts e sua companhia minúscula Mits, em Albuquerque, Novo México, criaram um computador igualmente minúsculo chamado Altair.
O Altair vinha sob a forma de kit e não fazia muita coisa. A maioria das pessoas não conseguiu que ele fizesse muito mais do que acender e apagar luzinhas em seu painel frontal.
Mas foi um computador que impulsionou Paul e eu, além de muitos outros pioneiros da microcomputação, a entrar em ação.
Algumas pessoas diriam que, na realidade, as raízes da revolução remontam a alguns anos antes, quando algumas poucas pessoas espalhadas compraram seus próprios minicomputadores da Digital Equipment, chamados PDP-8.
Outras provavelmente diriam que ela só começou em 1977, quando os primeiros computadores pessoais realmente úteis chegaram ao mercado. O mais lembrado dos micros de 1977 foi o Apple 2, criado por Steve Wozniak, Steve Jobs e Mike Markkula.
Igualmente importantes na época, porém, foram o Tandy TRS-80, criação de John Roach, e o Commodore PET, que nasceu da cabeça de um sujeito incrível -de nome Chuck Peddle.
Naqueles bons velhos tempos, costumávamos comentar sempre que essas máquinas não eram suficientemente usáveis para um público mais amplo -e nós tínhamos razão.
Mas, nas duas décadas que passaram desde então, os computadores se tornaram imensamente mais fáceis de usar e muitíssimo mais capazes.
Hoje, a quantidade de PCs vendidos nos EUA é aproximadamente igual à de carros. Cerca de 50 milhões de computadores são vendidos por ano no mundo todo.
Recentemente, fiz um convite aos leitores desta coluna: descrever como os PCs afetaram suas vidas.
As respostas que recebi foram entusiásticas e vieram principalmente de pessoas de meia-idade ou mais velhas.
Os jovens cresceram na presença de PCs e não têm tanta consciência do quanto a vida moderna seria diferente sem eles.
Uma professora canadense de digitação escreveu dizendo que é muito mais divertido ensinar adolescentes a digitar em um computador do que a datilografar em uma máquina de escrever.
Um médico britânico escreveu sobre os prazeres proporcionados por um processador de textos que verifica a ortografia e a gramática: "Hoje ninguém mais reclama de minha ortografia e minha letra. É ótimo!
Uma mulher escreveu: "Todos os dias, meu marido vai de trem de Long Island a Nova York. É uma viagem longa e feia, e os trens são velhíssimos, mas ele passa as duas horas do trajeto, ida e volta, escrevendo ficção no seu laptop".
"Meu computador pessoal me permite trabalhar em casa e passar mais tempo com meus familiares e o meio ambiente", escreveu Julia Neal, que vive no Havaí.
"Ele me ajuda a poder viver e trabalhar onde quero e ser dona do meu próprio tempo".
Helen Schwartz, que vive perto de minha cidade natal, Seattle, é uma senhora de meia-idade que ganhou um micro há menos de um ano e o usa para comunicar-se com amigos recém-conhecidos.
"Eu tinha medo que os computadores nos tornassem anti-sociais", ela escreveu.
"Mas estava enganada. Hoje tenho mais vida social do que jamais tive na vida. Eu realmente não fazia idéia de que iria encontrar essa vida e esse mundo novos, tudo dentro dessa maquininha".
Andy Locke, de Barcombe, Inglaterra, contou, maravilhado, como seu filho de 8 anos usa uma planilha eletrônica para fazer gráficos de estatísticas; e como o correio eletrônico fez com que ele pudesse restabelecer um contato íntimo com uma amiga no Brasil.
"Antes, eu só escrevia a ela muito de vez em quando, e metade das cartas acabava perdida", disse.
Braiden Kindt, de Filadélfia, apontou a desvantagem de se ficar viciado no computador, de maneira desequilibrada.
"Antigamente eu tinha uma vida. Agora tenho um computador", escreveu, sentado diante do próprio. "Se não fosse pela escola, eu só sairia desta sala para comer".
Alguns dos maiores fãs dos computadores pessoais são pessoas que os usam para superar os efeitos isoladores de deficiências ou problemas de diferentes tipos.
"O computador deu à minha mente turbulenta outra coisa para pensar, além do álcool", escreveu um homem.
O britânico Thomas Anderson, que passou vários meses deste ano convalescendo de uma doença, descobriu a liberdade que o PC lhe dava para se comunicar, explorar novas informações e até escrever um roteiro.
"O fato de possuir um computador pessoal tornou a experiência que sofri muito menos penosa", escreveu.
"O PC literalmente me deu vida nova", escreveu Cynthia McKee, vítima de síndrome muscular pós-poliomielite. Ela não estava podendo prosseguir com sua carreira de pesquisadora médica, mas usou um PC para começar uma nova carreira e escrever livros.
"Meu PC me permitiu conservar minha dignidade", escreveu McKee. "É verdade que não consigo mais cozinhar, lavar roupa ou passar aspirador na minha casa -mas afinal de contas, quem é que gosta de fazer tudo isso? O que eu precisava era saber que estava fazendo alguma contribuição útil para a sociedade".
Adoro ouvir sobre como os computadores melhoraram a vida das pessoas, duas décadas depois do início da revolução.
A revolução está longe de ter terminado. Na realidade, está apenas começando.
Como disse um de meus leitores: "À medida que os PCs se aperfeiçoam e mudam, minha empresa e minha vida também melhoram".
Você pode contar com melhoras e transformações constantes nos próximos 20 anos, pelo menos, e provavelmente por mais tempo.
O que interessa é o futuro, e é por isso que eu não costumo ficar olhando muito para trás, em retrospectiva. Esse é meu jeito de ser -mesmo agora, quando completo 40 longos anos de vida.

Tradução de CLARA ALLAIN.

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