São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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ONU encerra festa e pede reforma

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

As comemorações do aniversário de 50 anos da ONU se encerraram ontem em Nova York com a elaboração de uma carta de intenções assinada pelos 184 países-membros.
A carta traz algumas recomendações sobre como a Organização das Nações Unidas deverá atuar nos próximos meses e começou a ser elaborada no início de outubro.
Segundo o documento, a ONU precisa passar por uma reforma para que possa atender melhor a seus objetivos.
"A ONU deve estar equipada, financiada e estruturada para servir efetivamente às pessoas em nome do qual ela foi criada", diz a carta.
O documento também determina que os países-membros façam esforço para pagar suas dívidas com a entidade.
"Os membros devem pagar suas obrigações com a entidade em dia e de forma integral."
O governo norte-americano era contra a inserção deste trecho na carta de intenções, mas terminou sendo voto vencido.
Os EUA são o país que mais deve à ONU. Seu débito é de US$ 1,3 bilhão. Ao todo, os países-membros devem à ONU cerca de US$ 3 bilhões.
Essa dívida colocou à entidade na mais profunda crise financeira de sua história.
Em discurso feito na abertura das comemorações, o secretário-geral da ONU, o egípcio Boutros Boutros-Ghali, afirmou que, se até o fim do ano a dívida não for paga, a entidade terá problemas para continuar operando.
Vários presidentes criticaram os países que estão em dívida com a ONU durante seus discursos. As críticas mais fortes foram feitas pelo presidente da França, Jacques Chirac, e pelo primeiro-ministro do Reino Unido, John Major.

Bósnia
Ontem, a maratona de discuros no plenário da Assembléia Geral da ONU durou toda a manhã e parte da tarde.
Durante os três dias de reunião, cerca de 180 chefes de Estado e governo subiram ao palanque para discursar. Cada um só pôde falar por cinco minutos.
Os discursos que mais chamaram atenção ontem foram o do presidente da China, Jiang Zemin, e o da Bósnia, Ajija Izetbegovic.
Jiang acusou as grandes potências de usarem a ONU em benefício de seus interesses políticos.
Ele também afirmou que Taiwan é parte inalienável da China e descartou qualquer possibilidade de seu governo concordar com a independência de Taiwan.
"A reunificação de Taiwan à China continental ocorrerá como está previsto e será um acontecimento histórico", afirmou Jiang à ONU, antes de se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
Izetbegovic afirmou que vê com bons olhos as negociações para que seja estabelecida a paz na Bósnia, mas disse que não aceitará qualquer proposta em que o país tenha que ser dividido.
Para ele, a melhor maneira de selar a paz na região é a realização de eleições gerais, supervisionadas por observadores internacionais.
O presidente da Croácia, Franjo Tudjman, também declarou que é contrário à divisão do país.
Ontem pela manhã, os dois se encontraram com Bill Clinton no hotel Waldorf Astoria para discutir propostas de paz na Bósnia.
Os presidentes de Bósnia, Croácia e Sérvia deverão se encontrar em Ohio (Meio-Oeste dos EUA) no dia 31 de outubro para tentar firmar um plano de cessar-fogo definitivo na região.
Clinton condenou os políticos republicanos (de oposição) que querem proibir a entrada no país do presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic.
Os republicanos afirmam que Milosevic é um criminoso de guerra e que, por isso, não deveria receber visto.
Para Clinton, é fundamental que os líderes da Bósnia, Croácia e Sérvia estejam juntos no encontro. "É um absurdo arriscar os esforços de três países por causa de um visto", afirmou Clinton após o encontro com o croata Tudjman e o bósnio Izetbegovic.

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