São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995 |
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Vestibulandos já podem ser burros em paz
BARBARA GANCIA
Bem, até aí não existem novidades. Essa molecada que se deleita com o humor escatológico e racista dos Mamonas não aprendeu a escrever, claro, porque não sabe -e não gosta- de ler. O pior é que ainda há quem queira corroborar a ignorância dessa geração videogame. Quer provas concretas, ó cético leitor? Vamos lá: estou simplesmente estupefata com um recente lançamento da Melhoramentos. A editora, que deveria estar interessada em cultivar o hábito da leitura entre os jovens, acaba de colocar no mercado versões sonoras -ou seja, audiolivros- dos clássicos da literatura selecionados para o vestibular 1996. Não é lindo? Agora, os vestibulandos podem se sentir totalmente desobrigados de abrir um só livro na vida. Agora, esses termocéfalos de tênis importado já não precisam mais ficar trancados em casa, morrendo de tédio, debruçados sobre algum "Dom Casmurro" da vida. Agora, eles podem ouvir a versão da Melhoramentos no walkman enquanto patinam no Ibirapuera ou cultivam os músculos na Runner. Que se dane o fato de que, no minuto em que acabarem de ouvir a fita, terão esquecido tudo o que aprenderam. Não me entenda mal, ó exigente leitor. Nada tenho contra audiolivros. Muito pelo contrário. Cultivo o hábito de ouvi-los em engarrafamentos de trânsito, em salas de espera e em viagens de automóvel. Nada, porém, substitui o registro ocasionado pela leitura. E a prática da leitura, de fato, é mais trabalhosa do que assimilar um registro sonoro. Mas, se a Melhoramentos achou por bem produzir audiolivros para estudantes, é porque deve ter pesquisado o mercado e concluído que existe demanda para esse tipo de produto. A tristeza me corrói a alma... Texto Anterior: FHC oferece ajuda a Alencar Próximo Texto: Chatice; Sonho de Valsa; Pé direito Índice |
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