São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Calor de Atlanta reserva riscos a atletas

EDUARDO DE ROSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Olimpíada de Atlanta, que será disputadas em 96, na época do ano mais quente nos Estados Unidos, reserva um desafio extra: o calor úmido da região. Ele pode prejudicar o desempenho dos atletas e o bem-estar do público.
Atlanta está localizada no sudeste dos Estados Unidos, a cerca de 400 quilômetros do oceano Atlântico, 300 metros acima do nível do mar. É uma cidade com muito verde e pouca contaminação do meio ambiente, pois quase não possui indústrias. Sua característica climática principal é um verão com temperatura e umidade relativa bastante elevadas.
Nos dois últimos anos, à época dos Jogos Olímpicos, Atlanta registrou temperaturas em torno de 38 graus, com uma umidade relativa de cerca de 80%. Isso significa, na prática, que atletas de modalidades de longa duração, como maratona e ciclismo de estrada, terão grandes dificuldades em suas competições. Análises feitas com índices obtidos nos últimos dois anos indicam que, pela manhã, o risco à saúde dos atletas estará entre moderado e alto. Ao meio-dia e à tardinha, o risco será alto, não chegando à faixa crítica que costuma ser simbolizada por uma bandeira negra.
Como pode o atleta preparar-se para esse tipo de problema? Ele deverá fazer uma adaptação de cerca de uma a duas semanas, em Atlanta. O treinamento deve ser feito no período do dia em que será a competição nos Jogos. É fundamental que o atleta se hidrate adequadamente; em geral, deve tomar líquidos a cada hora e não apenas quando tiver sede. O tecido de sua camiseta deve ser leve, refletir a luz solar e favorecer a evaporação do suor, expondo o máximo possível de pele. Existe também uma variabilidade individual de adaptação, que deve ser considerada. Atletas do Sul do Brasil certamente terão mais dificuldades que atletas do Norte e Nordeste.
Existem ainda dois comentários sobre esse assunto que merecem espaço ao ser discutido o tema do calor de Atlanta.
Em ambiente com calor úmido, o atleta não deve ter como objetivo fazer seu melhor tempo, mas obter a melhor colocação possível. A tecnologia poderá ajudar os atletas nessa situação difícil.
Os norte-americanos estão testando uma espuma que, aplicada sobre a pista de atletismo, gera, ao evaporar-se, uma redução considerável da temperatura, calculada em cerca de nove graus. Será que funciona? Evidentemente, a resposta dependerá da umidade relativa no período.
Em reunião da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional, realizada recentemente, em Atlanta, Edwin Moses, representando os atletas, declarou que seus colegas estarão treinados e preparados para enfrentar o problema do calor úmido. Ele chamou atenção para o fato de que treinadores, dirigentes, juízes e público sentirão bastante mais o problema e que as preocupações da Comissão Médica deveriam ser dirigidas a essas pessoas, descondicionadas, idosas, algumas vezes obesas e totalmente desinformadas sobre a questão.

Eduardo Henrique De Rose é professor de Medicina do Esporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional.

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