São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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TV exibe 'Fina Estampa' no Natal

MAURICIO STYCER
'ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Caetano Veloso Especial" ou "Caballero de Fina Estampa". O título ainda não está definido, mas a data, sim: 25 de dezembro. Nesse dia, às 21h, vai ao ar a primeira superprodução brasileira da emissora de TV paga HBO, um especial de 90 minutos sobre o último show de Caetano Veloso.
Dirigido por Monique Gardenberg, o programa deve exibir a versão integral (24 músicas) do show que Caetano apresentou por duas noites, no final de setembro, no Metropolitan, no Rio.
Um disco com a gravação de parte do show será lançado no início de dezembro pela Polygram.
O trabalho que deu origem a tudo isso é "Fina Estampa", disco lançado em julho de 94, no qual Caetano interpreta boleros, guarânias e outros ritmos latinos, num repertório formado por canções que ouvia quando criança.
"Fiquei apavorada quando fui convidada a dirigir. Era um repertório que não fez parte da minha infância", diz Monique, 37.
No show, Caetano canta também algumas músicas em português, como "Chega de Saudade", "Itapuã", "Haiti" e "Leãozinho", além de canções hispânicas não incluídas no disco, como "Ai, Amor", de Bola de Nieve.
A HBO, cuja programação no Brasil é captada pelos assinantes da TVA, afirma ter investido cerca de US$ 200 mil no programa.
O orçamento folgado permitiu a Monique e ao produtor Flavio Tambellini filmarem as duas apresentações do show, utilizando seis câmeras de cada vez, e não apenas uma única apresentação.
Como as câmeras (cinco de 16 mm e uma de 35 mm) não foram instaladas exatamente nos mesmos locais nos dois dias ou não registraram exatamente as mesmas imagens, isso significa que cada momento do show foi captado de uma dezena de ângulos diferentes.
Além dos dois shows, a equipe levou Caetano ao palco do Metropolitan num outro dia para, sem platéia e sem orquestra, refilmar alguns detalhes. Ao fim, Monique consumiu 125 latas de filme, totalizando 20 horas de filmagem.
"Era impossível dizer 'corta!' durante o show. Os próprios câmeras perguntavam: 'Não é melhor cortar aqui?' Eu não conseguia mandar parar", conta Monique.
Produtora cultural, responsável pelo sucesso de festivais como o Free Jazz e o Carlton Dance, Monique vem investindo também na carreira de cineasta. Já realizou um curta, "Diário Noturno", e um longa-metragem, "Jenipapo".
Também dirigiu, em 94, Marina no clipe de "Deve Ser Assim". Na época, viu e reviu alguns filmes de shows, em especial "Stop Making Sense" (1984), o célebre documentário de Jonathan Demme sobre shows dos Talking Heads.
Para dirigir a filmagem do show de Caetano, Monique não buscou inspiração alguma. "Não queria inventar nada. Só registrar da maneira mais detalhada possível Caetano e sua banda. Quando se registra um show, você está a serviço de um outro criador. Você apenas tem que registrar isso da maneira mais digna possível", diz.
"Queria usar uma linguagem de cinema e não de videoclipe, no qual a emoção é cortada pelos efeitos".
Para quem se surpreender, ao assistir ao show na TV, com o excesso de closes nas mãos, braços e pés de Caetano, Monique explica: "Quando vejo um show dele, sempre reparo nesses detalhes".
Flavio Tambellini conta que a idéia de filmar o show foi de Caetano e Paula Lavigne, sua mulher.
A versão de "Fina Estampa" vista em São Paulo e Rio contava com 40 músicos, entre orquestra e os integrantes da banda de Caetano. Uma produção de custo muito alto como essa dificilmente seria levada a outras cidades. Daí a vontade de registrá-la em vídeo.

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