São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Agilidade tecnológica; Burocracia; Proposta inadequada; Oásis; Silêncio eloquente; Visão equivocada; Despenalização do aborto

Agilidade tecnológica
"Sempre fui leitor assíduo da Folha e agora no exterior, onde faço meu doutorado, tenho o prazer de continuar lendo este jornal. A qualidade da Folha Web é muito melhor (rapidez no acesso, qualidade das fotos etc) que a dos outros como "JB", "Globo", "Agência Estado". Dá prazer ver a agilidade da Folha na corrida tecnológica. No entanto, tenho notado que a Folha está com uma linha editorial menos agressiva e imparcial do que há dois anos, por exemplo. Espero que seja só impressão. Não gostaria de ver a Folha se transformar em um "Estado" ou, pior, em um "O Globo".
Angelo Pallini Filho (Amsterdã, Holanda)

Burocracia
"Não pretendo justificar o desvio de Rondônia (Josias de Souza, 22/10). Todavia, qualquer repartição pública sempre paga muito mais caro do que um particular. Como diretor, não posso comparar os preços em três anúncios de geladeiras e comprar a mais barata... Faço uma licitação e, depois de 30-45 dias, usando muitas horas e funcionários, compro pelo dobro do preço! O processo de licitação tenta evitar a corrupção, mas permite o conluio dos fornecedores. Só são fornecedores do Estado aqueles que podem aguardar para receber até seis meses mais tarde. Se o Estado colocasse na conta bancária os recursos disponíveis a cada quinzena, o administrador poderia facilmente negociar preços ainda menores. Essa é em parte a proposta do ministro Bresser, que permite liberdade com responsabilidade pelo menos às universidades e outras instituições sociais."
Isaias Raw, diretor do Instituto Butantan (São Paulo, SP)

Proposta inadequada
"A Prefeitura de São Paulo fez encomenda ao Ibope referente ao assédio sexual nos ônibus e já pensa em criar 'ônibus femininos'. A idéia não poderia ser mais ridícula porque hoje na cidade de São Paulo, em qualquer horário (o horário de pico se estendeu a todos os horários), se anda igual 'pingente'. Como é que pode um 'engenheiro competente' pensar em criar 'ônibus feminino e masculino' quando na verdade há uma grande defasagem de ônibus em circulação e ausência de fiscalização?"
Maria da Graça Nogueira (São Paulo, SP)

Oásis
"Tenho 22 anos, sou casada, profissional e estudante de escola pública. Há muito tempo ouço falar que o país está em crise e que nada dá certo. Acredito que nunca haverá de fato um governo que supra todas as necessidades de um país, mas o que não podemos fazer é dar espaço à acomodação. Um exemplo hoje de determinação é a escola pública em que estudo. Apesar dos salários com que sobrevivem os nossos professores, temos uma educação considerada regular, porém estamos conscientes das nossas chances em relação ao vestibular da Fuvest. Diante da má vontade de alguns professores e demais problemas relacionados à Secretaria da Educação, estamos muito bem."
Rute Neide A. Feitosa (São Paulo, SP)

Silêncio eloquente
"A pesquisa por mim defendida na pós-graduação da USP/ECA constatou que, embora a imprensa defendesse a necessidade de privatizar, reivindicasse o fim de cartórios, a extinção de reservas de mercado, exigisse a modernização e ampla abertura do mercado brasileiro em diversos setores da atividade econômica, foi omissa quanto a abrir o campo da comunicação. Em meio a tamanho encantamento com a abertura e admiração face à 'competitividade do mercado', a lacuna e o silêncio são eloquentes. Mesmo entre 20 jornalistas experientes, muitos em postos de chefia -grupo base das minhas entrevistas-, apenas um mencionou esse fato. Gostaria de parabenizar o ombudsman pelas reflexões da coluna. O ombudsman certamente pode pouco quanto a modificar os processos de produção da notícia, mas a capacidade de levantar questões para o debate, apontar criticamente defeitos, descobrir vícios aparentemente banais é uma grande contribuição que ele soube recuperar -depois das desastradas sucessões de Caio Túlio."
Armando Medeiros de Faria (Brasília, DF)

Visão equivocada
"Foi muito bem recebida a reportagem da Folha sobre a participação financeira das empresas nas campanhas eleitorais. Mas não posso deixar de registrar profunda decepção pelo desdobramento da reportagem por meio de editorial altamente depreciativo sobre o deputado Luís Roberto Ponte, em virtude de emenda orçamentária por ele apresentada propondo dotação para a continuidade das obras de um trecho rodoviário entre cujos executores está a empresa da qual é sócio. Surpreendeu-me a visão equivocada do editorialista, desconhecendo que qualquer emenda pode ser acatada total ou parcialmente, ou não acatada, pelo relator setorial, pelo relator geral, pela Comissão de Orçamento, que o deputado não integra, e, por fim, pelo próprio Congresso Nacional, significando, pois, a decisão do Poder Legislativo e não de um único parlamentar. A empresa do deputado Ponte detém, há algum tempo, um dos três contratos de recuperação emergencial daquele trecho. O contrato decorreu de concorrência correta e não de dispensa de licitação ou de qualquer processo viciado de contratação. O trecho de estrada em questão está inquestionavelmente enquadrado nas prioridades do transporte rodoviário nacional. Mesmo sendo aprovada emenda orçamentária pelo Congresso, a efetiva destinação de verba só é feita por decisão do Poder Executivo. A verba, quando liberada, é destinada à realização de uma obra e não aos cofres de uma empresa. O deputado Luís Roberto Ponte, ex-presidente e atual conselheiro da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, que ora presido, é sem dúvida o principal líder e interlocutor do setor junto ao governo. Por isso permito-me fazer essa manifestação em sua defesa. Não consultei, para tanto, meus companheiros construtores, membros da nossa CBIC. Mas tenho certeza estar interpretando o pensamento de todos, exceto, possivelmente, os de uns poucos que mal conseguem disfarçar sua insatisfação pela atuação do deputado. Afinal, foi ele o principal defensor da moralização das relações entre o setor público e o setor privado por meio de uma nova lei de licitações mais rigorosa e objetiva."
Marcos Villela de Sant'Anna (Brasília, DF)

Despenalização do aborto
"Solicitamos a correção da reportagem publicada na Folha em 19/10 acerca de moção de protesto contra a presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, a ser encaminhada por cientistas sociais presentes no 19º Encontro Nacional da Anpocs. Trata-se de pedir ao Congresso Nacional o respeito ao princípio já subscrito pelo governo brasileiro, em conferência internacional, de revisão do Código Penal no ponto relativo à despenalização do aborto. Não estamos interessados no ataque a pessoas, mas na conquista de direitos e garantias para o pleno exercício da cidadania, fundamental para a consolidação da democracia em nosso país. Pedimos, portanto, o obséquio de retificar na coluna 'Erramos' o equívoco cometido pelo jornalista que cobriu o evento e redigiu a reportagem, gerando mal-entendidos que em nada ajudam o avanço do processo democrático."
Lena Lavinas e Hildete Pereira de Melo (Caxambu, MG)

Resposta do jornalista Fernando de Barros e Silva - Não há nada para ser retificado. O abaixo-assinado em questão foi elaborado com o propósito claro de esvaziar a posição da presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), Rosiska Darcy de Oliveira, que não quis assumir publicamente a defesa da despenalização do aborto no país, conforme consta da reportagem.

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