São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Para governo, demissão não é culpa da tecnologia

SHIRLEY EMERICK

SHIRLEY EMERICK; CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro acredita que o aumento do desemprego no país é antes fruto de mudanças na estrutura das empresas do que de investimentos em tecnologia.
Eunice Leite, secretária-adjunta de Formação e Desenvolvimento Profissional do Ministério do Trabalho, diz que as empresas brasileiras estão preocupadas em concentrar esforços na sua produção final -realizando cortes e adotando a terceirização (transferência de serviços para terceiros).
"A lógica da reestruturação elimina empregos diretos, mas não temos desemprego em massa", diz ela.
Estudos do IBGE mostram que a atual taxa de investimento das empresas com aquisição de máquinas e equipamentos está abaixo do índice registrado em 1980. Naquele ano, os recursos das empresas empregados em tecnologia chegaram a 22,9% do PIB (Produto Interno Bruto).
Em 85, esta taxa caiu para 16,4% e 15,2% em 93. No ano passado, o investimento aumentou um pouco, 15,6%. "E foi o período de maior reestruturação registrado pelas empresas", frisa a secretária-adjunta.
Essa taxa, nos países industrializados (Europa e Estados Unidos), chega a 25%.
Mas, para o economista José Pastore, da Universidade de São Paulo, o Brasil já sente os efeitos dos investimentos em tecnologia. Dados por ele reunidos indicam que para se criar um emprego hoje, no país, é preciso um investimento de R$ 30 mil. Nos anos 70, R$ 10 mil criavam um emprego.
O emprego ficou mais caro porque exigiria mais investimentos em máquinas e tecnologia. Segundo Pastore, o desemprego tem dimensões mais preocupantes em países onde ocorrem duas condições: 1) sistema legal trabalhista muito rígido, impedindo adaptações dos contratos de trabalho; e 2) sistema educacional muito fraco.
O Brasil realiza as duas condições.
Neste ano, o governo treinou 348 mil trabalhadores, com gasto de R$ 62 milhões. Em 96, a meta é investir R$ 290 milhões e matricular 1 milhão de pessoas nos cursos. A prioridade são os beneficiários do seguro-desemprego -o governo paga mensalmente a cerca de 1,5 milhão de desempregados.

Colaborou CARLOS ALBERTO SARDENBERG, da Reportagem Local

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