São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Pulverização breca aumento salarial

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A terceirização das atividades industriais multiplicou o número de prestadores de serviços. Pulverizados, os trabalhadores desse segmento perdem representatividade e poder de barganha, num momento em que nem mesmo o sindicalismo industrial consegue ser tão combativo.
Resultado: os salários mais baixos dos serviços devem continuar mais baixos por algum tempo.
"Falta sindicato forte para puxar a remuneração para cima", afirma Paula Montagner, analista da Fundação Seade.
Para o consultor Hugo Barbieri, da Coopers & Lybrand, a renda achatada nesse momento é normal para um período de transição. "A prioridade agora é ter salário. No futuro, vai haver cada vez mais competição profissional e a remuneração deve aumentar", diz.
Outro fator que emperra o aumento de salários é o grau de qualificação. Só 10,4% das pessoas ocupadas no segmento exercem funções que exigem qualificação profissional; 31% são semiqualificados, e o restante, sem qualificação, de acordo com a Seade.
Mas a queda na renda também atinge as faixas mais bem remuneradas. Segundo o consultor Laerte Cordeiro, da Laerte Cordeiro e Associados, a oferta de emprego para executivos caiu 50% do ano passado para cá. Esses profissionais estão migrando para o setor de serviços -como contratados ou em negócios próprios- e quase sempre ganhando menos.
Segundo Paula, a tendência de crescimento é maior nos serviços ligados à produção (os que absorvem tarefas que antes cabiam às indústrias). Eles já representam hoje 39,5% do total de empregos em serviços na Grande São Paulo.
O aumento dos salários nesses setores é difícil, porque as fábricas terceirizam atividades para economizar, o que pressupõe que a empresa prestadora de serviços vai pagar menos a seus empregados.
No caso dos serviços ligados ao consumo (32,5% do total), como lazer e alimentação, o aumento da remuneração depende estreitamente da relação oferta/demanda. Ou seja, o segmento vai ter de esperar a economia estabilizar e voltar a crescer, a ponto de gerar mais procura por esses serviços.
Nas áreas que dependem do dinheiro público, exceto saúde e educação, há uma clara desmobilização do Estado, diz Paula.
"Os reajustes salariais para esses executivos não chegam a acompanhar a inflação. A competição diminuiu os salários, diz.
Para Pedro Paulo Martoni Branco, a recuperação dos rendimentos e o aumento do nível de emprego dependem, principalmente, das reformas estruturais do país e da melhoria do sistema educacional.
Depois, é preciso conciliar as necessidades de emprego com a política econômica, diz.
(EB)

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