São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Arqueologia não é sinônimo de aventura

CARLA ARANHA SCHTRUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Imaginar que o arqueólogo vive só aventuras, e associá-lo à série cinematográfica Indiana Jones, é o caminho mais curto para se desiludir com a realidade do dia-a-dia.
A opinião é de Wlademir José Luft, 36, coordenador do curso de arqueologia da Unesa (Universidade Estácio de Sá), do Rio, o único de formação superior no país.
"A maioria chega aqui com a ilusão de que a arqueologia é algo fantástico, coisa de filme. Mas a realidade é outra", afirma.
O trabalho de campo, por exemplo, geralmente não ocupa a maior parte do tempo do arqueólogo, ao contrário do que se pensa. O comum é ele se dedicar mais a estudos e a preparação de teses.
Em empresas, precisa elaborar projetos de consultoria ou de preservação de patrimônio histórico.
O objetivo da arqueologia é reconstituir o passado de populações antigas. Para isso, estuda achados ou vestígios, como objetos, ruínas e fósseis de animais e plantas. Fóssil é o que restou do ser vivo, vários anos após sua morte.
O profissional que estuda arqueologia pode trabalhar em universidades, museus, órgãos do governo ligados a pesquisa e empresas. Também pode dar aulas.
"O mercado de trabalho é bom, a não ser em empresas. Elas praticamente não contratam, mesmo quando há necessidade de estudo de impacto ambiental em terreno antigo", afirma Luft.
O salário máximo não ultrapassa R$ 3.000 mensais, segundo Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, 40, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira.
"O arqueólogo é um cientista. Se não tiver curso superior na área, é formado em outras ciências e se dedica quase integralmente à profissão. Mas a remuneração não reflete essa realidade."
A profissão ainda não é regulamentada. Por isso não há piso salarial. De acordo com Albuquerque, a regulamentação deve sair no início do ano que vem. A proposta de piso salarial é R$ 900.
Geralmente ganha mais quem é consultor. Nesse caso, chega a R$ 4.000. Mas o campo de trabalho em consultoria de empresas no setor ainda é novidade no país. "Nos Estados Unidos, essa área emprega muita gente. Aqui a tendência é haver um aumento no número de consultores", prevê Solange Bezerra Caldarelli, 47.
Ela é proprietária da Scientia Consultoria Científica, especializada em arqueologia, que trabalha com autônomos. Seu faturamento mensal atinge R$ 4.000, em média.
"O campo de trabalho pode crescer, até porque há poucos profissionais no país", concorda José Luiz de Morais, 42, diretor científico do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (Universidade de São Paulo), que tem pós-graduação na área.
Para Wlademir Luft, da Unesa, a explicação para o número reduzido de arqueólogos no país -são 250- está nos baixos salários. A taxa de evasão do curso chegou a 60%, nos últimos semestres.
"Quando os alunos percebem o quanto vão ganhar, muitos acabam até desistindo da faculdade. Preferem algo que vá dar algum dinheiro."

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