São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Policiais brasileiros se espantam em Nova York

GILBERTO DIMENSTEIN

Policiais brasileiros vieram a Nova York na semana passada para aprender e ver com os próprios olhos o que consideram um milagre. De fato, para um brasileiro, parece mesmo irreal: embora aumente a pobreza e as ruas tenham cada vez mais mendigos, a criminalidade em Nova York se reduz vertiginosamente. Em dois anos, o número de crimes violentos caiu 40%.
Traduzindo: se essa queda ocorresse na região da Grande São Paulo, por exemplo, haveria por hora (isso mesmo, hora) menos 27 furtos ou roubos. Pelo menos 70 pessoas não teriam diariamente a desagradável sensação de ver um vazio onde estava estacionado seu automóvel. Uma pessoa a menos seria assassinada por dia.
Estiveram aqui pessoas da cúpula da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. "Por trás do milagre, vimos que o óbvio funciona", comenta o coronel José Vicente da Silva, um dos responsáveis pelo programa de segurança de Mário Covas e Fernando Henrique. Agora, ele pretende implantar algumas das idéias na Secretaria de Segurança.
"Nós passamos a vida ouvindo que a criminalidade era provocada pela miséria e pouco podíamos fazer. Estávamos errados", analisa o tenente-coronel Jorge Luiz Marino, do gabinete do secretário da Segurança de São Paulo.
Ainda não se sabe qual o peso de cada fator por trás da queda da criminalidade. Mas ninguém duvida de que o maior policiamento inibiu a delinquência. Colocaram mais policiais nas ruas andando a pé ou de bicicleta, tornando-os uma figura familiar nos bairros.
As delegacias ganharam mais autonomia. Os distritos policiais são cobrados como se fossem empresas privadas, a partir de balanço detalhado sobre o número e os tipos de crime.
A polícia de Nova York ensinou truques a seus colegas brasileiros. Um deles: dá resultado criar fundos, com o auxílio da comunidade e de empresas, para pagar denúncias anônimas. Cada denúncia comprovada vale, no mínimo, US$ 1.000 -quem oferecer uma boa pista sobre o assassino da brasileira Maria Isabel Monteiro, encontrada morta do Central Park, arrebata US$ 63 mil.
Mais um truque que, no início, foi ridicularizado pela imprensa daqui: combater pequenos crimes (grafiteiros, bêbados, motoqueiros sem capacete) ajuda a combater os grandes crimes. Isso porque se reduz a sensação de abandono da cidade e, portanto, a de impunidade.
PS - Um caso em particular chocou os visitantes. Eles receberam um manual informando que nenhum policial pode receber qualquer presente. Para ilustrar, ouviram a história de uma oficial que foi fardada tomar um sorvete de casquinha. O dono da sorveteria, gentil, colocou uma bola a mais, oferta da casa. Um cliente viu a cena, fotografou discretamente e denunciou à delegacia. A policial foi processada e punida.

Para se ter uma idéia do pânico que o tema desemprego provoca nos Estados Unidos, basta conhecer uma pesquisa feita pelo "The New York Times". Pelo menos 70% dos habitantes de Nova York conhecem alguém que perdeu o emprego nos últimos dois anos.
PS - A experiência da Ford em São Paulo com seus empregados para evitar o desemprego atraiu a atenção do Ministério do Trabalho e sindicalistas do setor automobilístico norte-americano. Eles querem mais detalhes.

Especialistas garantem que um dos empregos do futuro é segurança de operações eletrônicas de empresas privadas. Transações comerciais cada vez mais são feitas on-line, gerando os mais sofisticados golpes. Nos Estados Unidos, calcula-se que as empresas sejam roubadas em US$ 9 bilhões por ano via Internet.

Há vários meios de se medir a importância que uma sociedade dá à educação. Uma delas é comparar o salário de uma professora primária com as demais categorias profissionais. Uma professora em início de carreira ganha em média US$ 2.100 mensais (nas escolas públicas a média é US$ 3.000). Com 16 anos de experiência, a média nacional pula para US$ 3.500. Compare:
Parlamentar: US$ 8.000
Presidente da República: US$ 10 mil
Arquiteto (10 anos de experiência): US$ 3.000
Professor universitário: US$ 6.000
Reitor de universidade: US$ 10 mil
Dançarino: US$ 2.000
Farmacêutico: US$ 4.000
Enfermeira: US$ 3.000
Psiquiatra: US$ 12 mil
Pediatra: US$ 11 mil
Programador de computador: US$ 2.500
Repórter (salário inicial): US$ 2.000
Editor de jornal: US$ 6.000
Cirurgião: US$ 19 mil

Uma das pérolas de meu banco de dados sobre previsões está na letra "S." Simonsen disse que o Brasil "já" estava em recessão e um mês depois mudou de idéia. Com seu habitual bom humor, explicou: "Não mudei de idéia, a conjuntura é que deu uma virada". Na letra "S", temos também José Serra, prevendo que Fernando Henrique seria um fracasso como ministro da Fazenda porque, entre outras coisas, não sabia dizer não: "Ele vai se afundar e vai levar junto o partido. Vai ser um desastre".
PS - O presidente Fernando Henrique, brincando, sugeriu a esta coluna que aumentasse a memória de meu computador para abrigar este banco de dados. "Não vai faltar material", brincou. De fato, poderia incluir várias de suas frases. Uma delas: "A fisiologia acabou."

Texto Anterior: Realidade é mais feia que ficção em 'O Vôo'
Próximo Texto: Croatas estão 'confusos' para eleição de hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.