São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Esquerda perde disputa no PT por secretaria

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por 44 votos a favor e 32 contra, o Diretório Nacional do PT decidiu ontem indicar os nomes que a esquerda petista vinha se recusando a preencher na Executiva do partido.
É a segunda derrota da esquerda petista em dois meses. Reunida na chapa "Socialismo e Democracia", ela se recusa desde setembro a ocupar os cargos caso não ficasse com a secretaria geral.
Mais uma vez, Luiz Inácio Lula da Silva se absteve de votar em uma decisão do partido. Ele foi um dos quatro que se abstiveram na votação de ontem. Lula evitou fazer comentários sobre a questão.
Além de Lula, também se abstiveram de votar o senador Eduardo Suplicy (SP), o ex-presidente petista Olívio Dutra e o ex-deputado paulista Plínio de Arruda Sampaio. Mas foi de Lula a idéia de uma proposta conciliatória.
Segundo a proposta, o atual secretário-geral do PT, Cândido Vaccarezza, ocuparia o cargo por um ano, sendo substituído no ano seguinte pelo deputado Arlindo Chinaglia (SP), da esquerda.
A proposta de Lula, apresentada na reunião por Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral do PT, foi rechaçada pela esquerda. Depois disso, Carvalho apresentou a proposta de preenchimento dos cargos pelo Diretório Nacional.
A decisão da esquerda de se ausentar da Executiva mudou a cara da direção petista. Os nomes aprovados pelo diretório ocupam em sua maioria cargos eletivos e têm mais inserção na sociedade.
Passaram a integrar a Executiva petista nomes como os das senadoras Benedita da Silva (RJ) e Marina Silva (AC), o senador José Eduardo Dutra (SE), e o ex-deputado Aloizio Mercadante (SP).
Também passam a integrar a Executiva do PT o deputado estadual Juca Alves (ES), a vereadora Maria Caiaffa, de Belo Horizonte (MG), a ex-deputada paulista Clara Ant, o jornalista Perseu Abramo e Gilberto Carvalho.
Principal líder da esquerda, Chinaglia afirmou que seu grupo recusou a proposta de ficar um ano com a secretaria geral para "não passar a idéia que a questão se resumia a uma disputa por cargos".
"É tradição no PT respeitar a proporcionalidade", afirmou Chinaglia. Segundo ele, seu bloco tinha direito a ocupar a secretaria geral porque obteve 46% dos votos para o Diretório Nacional.
A chapa do presidente do PT, José Dirceu, obteve 54% dos votos. Ele é da corrente Articulação, liderada por Lula. O grupo Democracia Radical, do deputado José Genoino (SP), apoiou essa chapa.
Dirceu evitou dizer que a decisão de ontem foi uma derrota da esquerda. Disse que ela não facilita o processo de reforma do PT.
"A reforma do partido para uma maior sintonia com a opinião pública já está em execução", disse. A proposta aprovada ontem deixa aberta possibilidade de nova negociação com a esquerda.

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