São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Merchandising chega ao samba

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

Tem merchandising no samba. Aproveitando o regulamento do grupo de acesso do desfile das escolas de samba do Rio, que permite a divulgação de marcas no desfile, a Unidos do Cabuçu bolou um enredo para tentar faturar R$ 500 mil com patrocínio.
Sem ter como bancar o custo de desfile, em torno de R$ 600 mil, segundo a presidente da escola, Terezinha Monte, os responsáveis pela Unidos do Cabuçu vão mostrar o enredo "Do reclame ao merchandising, a história da propaganda no Brasil".
Os objetivos são explorar ao máximo o uso de marcas no desfile, sem que isso pareça forçado, e tentar voltar ao grupo especial, do qual participou entre 1984 e 1990.
Os carros alegóricos estão sendo os primeiros a serem vendidos. Pelo regulamento, são no máximo seis, incluindo o abre-alas (o primeiro a entrar na passarela).
A porta-bandeira da escola, Katia Kour, 31, que é formada em publicidade, está tentando vender os patrocínios junto com uma empresa de promoções e eventos.
Diversas empresas já foram contactadas. Segundo Katia, as negociações estão mais adiantadas com a Nestlé, que usaria os biscoitos Tostines.
Já está pronto o croqui do carro alegórico que terá a embalagem gigante (7 metros de altura) do biscoito água e sal da marca.
Segundo José Carmo Silveira, da Targa, que também busca os patrocínios, há negociações adiantadas com outras empresas, mas nada está fechado.
As principais são Coca-Cola, Duchas Corona, Antarctica e Linguiças Império. O carro das Duchas Corona será de chuveiros gigantes jorrando água com pessoas tomando banho de verdade.
Mesmo fazendo parte do grupo de acesso -o campeão e o vice deste grupo passam a disputar o Carnaval com as principais escolas em 1997- a exposição na mídia é grande. A escola estima que 2,32 milhões de pessoas verão o desfile no sambódromo e na televisão.
As TVs Manchete e CNT transmitem ao vivo e, se a escola ficar entre as duas primeiras colocadas, volta à avenida no Desfile das Campeãs, uma semana depois. A exposição das marcas triplica neste caso, na avaliação da escola.
Nem tudo será vendido, no entanto. Das 25 alas, somente 15 terão merchandising. As outras (as primeiras a desfilar), não, pois contarão a história do Brasil a partir de Pedro Vaz de Caminha, a primeira pessoa a fazer propaganda do país, ao escrever ao rei de Portugal, d. Manuel.
Nas fantasias das alas, não é permitida a divulgação das marcas, apenas de "propaganda subliminar", segundo Katia.
"Podemos colocar a ala igual à embalagem de um produto e até o logotipo parecido. Só não pode ter o nome nas fantasias", disse ela.
Mesmo com a possibilidade de vender a propaganda para mestre-sala e porta-bandeira, a Unidos do Cabuçu não está oferecendo estes produtos.
"A gente não faz questão de vender, porque é a bandeira, representa a escola. Se vier de encontro ao enredo e alguém quiser a gente vende, mas não pode esculhambar o pavilhão da escola", diz Katia.

Texto Anterior: Fábrica de tecidos vira outlet no Rio; Redução de jornada evita demissão em SP; Mercedes vende 15% mais no Oriente Médio
Próximo Texto: Nova versão; Hora de amealhar; Perdas da Caemi; Deficiência oficial; Moeda corrente; Varejo eletrônico; Representação gráfica; Aposta na retomada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.