São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Québec vota hoje se quer separação do Canadá

DA REDAÇÃO

Os 4,9 milhões de eleitores do Québec decidem hoje se a Província de maioria francófona (que fala francês) vai iniciar um longo processo que pode levar à sua separação do Canadá.
No referendo, eles vão dizer se o "Québec deve se tornar soberano, depois de fazer uma oferta formal de uma nova parceria econômica e política ao Canadá".
As últimas pesquisas mostram os separatistas à frente com uma pequena margem, insuficiente para antecipar um resultado. O "sim" tem 46,8% das preferências, contra 41,4% do "não", segundo a última pesquisa do grupo Leger & Leger. A margem de erro da pesquisa é de 3,1 pontos percentuais.
Com o crescimento dos separatistas, o desespero parece ter tomado conta do campo federalista.
Seu líder, o primeiro-ministro federal, Jean Chrétien, afirmou na última quarta-feira, em rede nacional de televisão, que "a desunião do Canadá será o fim de um sonho, o fim de nosso país, que é invejado por todo o mundo".
Um dia antes, o premiê, ele próprio natural do Québec (pronuncia-se "quebéc"), havia oferecido um novo acordo constitucional que garantia à Província maior autonomia.

Bouchard
Para Jean-Marc Leger, presidente do grupo Leger & Leger, que faz pesquisas de opinião pública, o crescimento dos separatistas é reflexo da entrada na campanha de Lucien Bouchard, líder do Bloc Québécois (Bloco de Québec), representantes dos independentistas no Parlamento Federal, em Ottawa.
Ex-ministro conservador no governo federal e ex-embaixador canadense na França, Bouchard é o político predileto dos habitantes do Québec -aprovação de 70%.
Além disso, tem uma aura de mártir por ter sobrevivido à ação de uma bactéria estreptococo do tipo A -conhecida como "bactéria assassina". Para Leger, só isso lhe garantiu pelo menos dez pontos percentuais de popularidade.
Antes dele, o principal astro da campanha separatista era o impopular primeiro-ministro da Província do Québec, Jacques Parizeau.
O Parti Québécois (Partido do Qúebec), de Parizeau, venceu a eleição legislativa provincial de setembro de 1994. Sua principal promessa era fazer um referendo sobre a independência.
Apesar do crescimento dos separatistas, a vitória do "sim" não implica a independência imediata do Québec.
O premiê Parizeau tentou atrair indecisos afirmando que eles poderão manter seus passaportes canadenses e que a Província continuará usando o dólar canadense.
Essa postura provocou reações no Canadá anglófono (que fala a língua inglesa). Líderes conservadores no oeste disseram que os eleitores do Québec devem decidir se ficam no Canadá ou se saem de uma vez por todas.
Para esses líderes, caso o "sim" ganhe, o Québec não poderá se beneficiar de um esquema especial de associação com o Canadá, como dizem os separatistas.
Apesar das garantias do premiê Parizeau, nos dias que antecederam o pleito dobrou o número de pedidos de passaportes canadenses no Québec e aumentou a transferência de dinheiro para bancos de fora da Província.
A disputa entre francófonos e anglófonos -e, antes deles, entre ingleses e franceses- marca toda a história política do Canadá.
Essa disputa ganhou força na segunda metade da década de 60, com a Revolução Tranquila, que elevou o padrão de vida da comunidade francófona e deu força aos nacionalistas que reivindicavam a independência de sua região.
Em 1967, os independentistas receberam o apoio do então presidente da França, Charles de Gaulle. Em visita a Montreal, ele pronunciou a frase que se tornaria slogan separatista: "Vive le Québec libre" (viva o Québec livre).
O auge da disputa ocorreu nos anos 70, com os atentados terroristas da separatista Frente de Libertação do Québec.
Seis anos depois, o Parti Québécois chegou pela primeira vez ao poder, liderado por René Lévesque. A proposta de soberania-associação de Lévesque foi rejeitada em 1980 por 60% a 40%.
Uma aparentemente interminável série de disputas legais sobre o relacionamento entre as Províncias e o governo federal marcou a década de 80 no Canadá, de resto um período em que ocorreu a melhoria geral do padrão de vida no país, hoje um dos melhores do mundo.

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