São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Estréia hoje na Globo "novela interativa"

ANGÉLICA BANHARA
EDITORA DO TV FOLHA

"Explode Coração", a novela da Rede Globo que estréia hoje, às 20h35, já é "interativa" antes de ir ao ar. Quando decidiu escrever a trama, Glória Perez colheu opiniões de telespectadores e chegou a gerar polêmica via Internet, a rede mundial de computadores.
"Sempre fiz novela muito perto do público, mas é a primeira vez que posso ter essa proximidade antes de a novela ir ao ar e antes até de desenvolver os capítulos", diz a autora.
Nas cartas que enviou pelo computador para seu público virtual, ela contou que estava escrevendo uma novela sobre a Internet e pediu sugestões.
Foi um modo de testar a receptividade dos temas que seriam abordados -Internet, vida dos ciganos e paixão virtual.
Ela conta que recebeu milhares de relatos de experiências de usuários "viciados" em computadores e discutiu a relação entre pessoas que nunca se encontraram.
"Fiquei muito impressionada porque existem romances que começam, se desenvolvem e morrem no computador e as pessoas não se conhecem", afirma.
Enquanto escrevia a novela, Glória contava a história aos viajantes cibernéticos. Eles diziam do que gostavam e do que não gostavam. "Antes mesmo de a novela ir ao ar tive avaliação de uma fatia do público", afirma a autora.
Ela continua recebendo cartas pela Internet. Mas deixa claro que, apesar da intenção de manter a troca de informações no decorrer da novela, seus correspondentes não vão interferir diretamente na trama. "Explode Coração" não será um "Você Decide".
"Contribuir na trama é uma coisa muito perigosa. Isso eu não peço. Quero que contribuam com suas experiências. Assim como você recebe cartas (cartas mesmo) das pessoas dizendo: 'Quero que fulano fique com sicrano, não quero tal romance', pela Internet também vêm mensagens assim."
Pelo computador, as pessoas disseram que querem se corresponder, participar, continuar discutindo "Explode Coração".
Glória conta que uma das descobertas que a surpreenderam quando navegava na Internet foi o contato com homens casados que largam a mulher por causa de uma outra virtual, quase desconhecida.
"Escrevi para um deles perguntando o que a mulher virtual tem que a real não tem, e ele respondeu: um botão que desliga."
Ela recebe cartas de Miami e de vários outros lugares contando histórias de amor inacreditáveis.
As conversas via computador chegaram a causar polêmica quando Glória contou que escreveria uma novela sobre a Internet.
"Um homem escreveu: 'Por que você não põe uma coisa muito engraçada, uma mulher tentando mexer no computador?'. Um outro viu essa mensagem e respondeu: 'Como? Não sabia que Glória escrevia ficção científica'. Um terceiro disse -esse, foi apedrejado- que os homens realmente tinham razão: as mulheres eram incompatíveis com quase todas as máquinas, com exceção do liquidificador", conta Glória.
Algumas mulheres se rebelaram e houve um manifesto na Internet, assinado por várias delas, deplorando o comportamento machista.
Glória Perez diz que trabalhar o universo cigano era uma idéia antiga. A proposta de incluir a Internet na história surgiu depois que se tornou usuária da rede.
"Comecei a navegar na Internet e vi que tinha possibilidades dramatúrgicas muito interessantes. Gosto muito de computação; sou muito curiosa em relação às coisas que estão acontecendo no mundo. Eu vi que isso significava uma mudança profunda para a humanidade e quis ver de perto. Minha formação é de história. Tive aquela curiosidade dos historiadores e fui olhar", afirma.
A autora acredita que o telespectador vai aceitar bem o fato de um tema recente como a Internet ser protagonista da trama, que deve ter cerca de 180 capítulos.
"Se você é um escritor, vai mostrar isso do ponto de vista do espetáculo. Não vai mostrar a técnica de ligar um computador. Senão, seria impossível fazer filmes sobre foguetes, sobre avião. Já pensou se a gente tivesse que saber dirigir avião para sofrer junto com o piloto do filme?"

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