São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Globalização traz pobreza, diz Grupo dos 15

CLÓVIS ROSSI; DENISE CHRISPIM MARIN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

DENISE CHRISPIM MARIN
O documento a ser firmado hoje pelos representantes do Grupo dos 15, em Buenos Aires, critica os efeitos sociais gerados pelo processo de globalização das economias mundiais, como o aumento do desemprego e da pobreza.
O G-15 foi formado em 1989 por 15 países considerados emergentes. Desses, 13 faziam parte do grupo dos não-alinhados -apenas Brasil e México não compunham essa organização.
A prioridade do grupo é a discussão de temas econômicos.
O texto aprovado hoje aponta que o setor de serviços não está gerando os postos de trabalho necessários para suprir a perda de empregos no setores agrícola e manufatureiro.
Também indica que 30% da mão-de-obra urbana na América Latina e que 60% da africana atuam no mercado informal.
Embora critique o comportamento dos países desenvolvidos, o documento não adota a posição de confronto defendida por um de seus participantes, o primeiro-ministro da Índia, Narasimha Rao.
“Os países industrializados não deveriam reduzir as oportunidades de emprego impondo barreiras comerciais ou restringido o fluxo de recursos aos países em desenvolvimento”, diz o documento.
As delegações preferiram reforçar a intenção de aumentar o diálogo com os países desenvolvidos.
Trata-se de uma estratégia clara para o estreitamento das relações comerciais e para a ampliação do fluxo de investimentos.
Esse tom foi notado no discurso inaugural do presidente argentino, Carlos Menem. Logo no início, ele chamou a atenção para o mercado consumidor formado pelo G-15 -a população total de 1,6 bilhão de pessoas.
Esse seria um dos importantes pontos de atração de investimentos vindos dos países desenvolvidos -com os quais, segundo Menem, deve-se alentar “um diálogo frutífero”. A posição contrária, defendida por Rao, acabou isolada. Ainda assim, o primeiro-ministro insistiu em pedir uma “assistência positiva” aos emergentes.
Rao também tocou em uma questão-chave das discussões sobre a globalização das economias e a fixação de regras claras à produção e ao livre comércio entre os países -o “dumping” social, ou práticas de exploração indiscriminada do trabalho que resultam em barateamento de preços das mercadorias e maior competitividade no mercado internacional.
O primeiro-ministro da Índia citou como exemplo que seu país está liberando, em um período de tempo determinado, milhões de crianças que trabalham em indústrias perigosas.
“Mas isso não se pode fazer da noite para o dia”, declarou Rao.
O presidente Fernando Henrique Cardoso preferiu mais uma vez bater na tecla da necessidade do controle dos capitais voláteis (aplicações em bolsas de um país para outro). Esta seria uma forma de assegurar a estabilidade econômica dos países mais vulneráveis e proporcionar maior desenvolvimento. No entanto, FHC não soube dizer como seriam os controles.
“Os próprios países desenvolvidos não tem como controlar os fluxos de capitais”, afirmou. “Os bancos centrais não têm força para isso”, completou.

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