São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Três agências do cartel levam R$ 18,825 mi

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contratos públicos renderam neste ano R$ 18,825 milhões para três das 32 empresas que integram o CNT (Clube de Negócios de Turismo Brasília). O valor se refere aos negócios feitos pelas empresas junto à administração direta (ministérios), autarquias e fundações.
Estão excluídos os contratos feitos com as empresas estatais e de sociedade mista. A Voetur Turismo ficou com a fatia de R$ 8,936 milhões, a Buriti Turismo com R$ 7,181 milhões e a Interline Turismo com R$ 2,706 milhões.
A Folha revelou no domingo que o CNT foi formado pelas principais agências de turismo de Brasília para fraudar licitações públicas. O clube vem funcionando clandestinamente desde julho.
O presidente do CNT é Luiz Gustavo de Andrades, um dos donos da Buriti. Ele é sócio na empresa do ex-presidente da Embratur Ronaldo Monte Rosa, que representa em Brasília a Associação Brasileira de Agentes de Viagem.
O governo gastou neste ano, em agências de todo o país, R$ 75,9 milhões com passagens aéreas. Somando-se as diárias de hotel, a despesa sobre para cerca de R$ 300 milhões. Existem cerca de 6.400 agências de viagens no Brasil, 204 delas em Brasília.
Os dados relativos ao faturamento das agências estão no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), que registra todos os pagamentos feitos pelo governo aos prestadores de serviços.
A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça está investigando a formação do cartel das empresas, a pedido do deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), feito em 12 de junho deste ano.
O deputado suspeitou da existência do cartel do turismo depois que o Tribunal de Contas da União determinou que as compras de passagens com verba pública deveriam respeitar o menor preço oferecido pelas agências.
Anteriormente a essa decisão, prevalecia o entendimento do Departamento de Aviação Civil de que as empresas eram proibidas de dar descontos em contratos com a administração pública.
O deputado fez levantamentos no Siafi e constatou que os contratos públicos para a compra de passagens aéreas estavam se restringindo a poucas empresas.
Em 1994, as três empresas receberam juntas cerca de R$ 13,4 milhões em contratos públicos.
"O governo, e por consequência o contribuinte, está sendo driblado pelas agências e paga mais caro pelas passagens aéreas sem descontos", afirmou Carvalho.
Documentos revelados pela Folha, em sua edição de domingo, demonstram que, antes da formação do clube, o governo obtinha descontos de até 9% sobre o valor das passagens aéreas. Agora, os descontos não chegam a 1%.
O CNT sorteia previamente as empresas que vencerão as licitações públicas. Há escritórios das agências dentro dos ministérios. A Folha verificou ontem a existência de um balcão da Buriti Turismo que funciona no MInistério da Agricultura e Reforma Agrária.

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