São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Micros acham difícil pagar o 13º

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 22 mil micro e pequenas indústrias do Estado de São Paulo não vão pagar o 13º salário a seus empregados.
Significa que 20% das 110 mil micro e pequenas empresas instaladas no Estado não têm dinheiro para quitar esse encargo com o quadro de pessoal.
Foi isso o que constatou uma pesquisa que acaba de ser concluída pelo Simpi, sindicato que reúne as micro e pequenas indústrias paulistas.
No levantamento feito pelo sindicato, 30% delas também informaram que dependem de recursos de bancos para pagar o 13º salário.
Ou seja: elas podem ou não pagar o 13º. Já 50% delas afirmaram que vão pagar o 13º com certeza.
O prazo de pagamento da primeira parcela do 13º vence no dia 30 de novembro, e o da segunda, no dia 20 de dezembro.
Empresas que não pagam o 13º ficam sujeitas a multa de 160 Ufir (R$ 127,23) por empregado.
Preocupação
"Estamos numa situação péssima. No ano passado, só 2% das empresas, no máximo, deixaram de pagar o 13º", afirma Joseph Couri, presidente do Simpi.
Nos seus cálculos, 170,8 mil empregados não receberão o 13º. Outros 256,2 mil podem ou não receber e 427 mil vão receber. O setor emprega 854 mil pessoas.
"Esse cenário é extremamente preocupante. As micro e pequenas indústrias estão descapitalizadas."
Tudo isso que está acontecendo, diz ele, se deve à queda nas vendas e às altas taxas de juros.
Menor produção
Pesquisa mensal feita pelo Simpi mostra que as micro e pequenas utilizaram 57,3% da capacidade instalada em setembro. No mesmo mês de 1994, ocupavam 66%.
"A tendência para o mês de outubro é de redução ainda maior no nível de atividade." Além da redução dos pedidos em carteira, diz Couri, as empresas sofrem a pressão dos juros.
"Elas são obrigadas a pagar 8,5% de juros ao mês, em média, para descontar duplicatas nos bancos ou de 14% a 15% ao mês para pegar dinheiro de agiotas."
Atraso
Horácio Halasz, proprietário da Litoral Brasil, confecção de roupas para praia, conta que já informou seus 15 funcionários que só vai pagar a 1ª parcela do 13º no dia 7 de dezembro.
"Tem uma duplicata entrando nesse dia. Como vou pagar a segunda parcela do 13º? Essa é uma boa pergunta", diz Halasz.
Ele conta que, no auge do verão, sua empresa está operando com 30% da capacidade. "No ano passado fazíamos hora extra para dar conta dos pedidos", lembra.
A Litoral Brasil tinha programado a compra de seis toneladas de tecidos para receber de julho a dezembro e cancelou a compra de cinco toneladas por causa da queda nas vendas.
A Luckysteel, fabricante de moldes e ferramentas, colocou à venda no último final de semana um equipamento para poder pagar a 1ª parcela do 13º (R$ 17 mil) a seus 35 funcionários.
"É a primeira vez, em dez anos, que vou atrasar o pagamento do 13º", diz Valdir Roasio, diretor. Ele conta que a empresa trabalha hoje com 60% da capacidade. "Os juros estão altíssimos."
Edgar Souza, sócio-diretor da Engereus, que faz peças para veículos e eletrodomésticos, informa que está reduzindo o estoque de matéria-prima quase para zero para poder pagar a 1ª parcela do 13º.
"Para nós a demanda não caiu. O que acontece é que nossos custos subiram 35%, mas nós só conseguimos repassar 20% para os preços. Isso comprometeu nossa margem de lucro." A Engereus emprega 30 pessoas. Há seis meses tinha 50 empregados.
A Universal Tecnologia, que faz peças e máquinas, está tentando reforçar o caixa com a redução do prazo de pagamento dado aos clientes. "Cortamos de 30 para 14 dias", afirma Ronald Karpienko, diretor.
Apesar de estar operando com 20% da capacidade, a empresa, diz ele, deve pagar a 1ª parcela do 13º descontando antecipadamente duplicatas a receber nos bancos.

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