São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Brasil e Argentina fazem final a cada jogo

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil entra em campo desfalcado amanhã para enfrentar a Argentina, que, ao que parece, tampouco poderá contar com sua força total. (Aliás, sempre que não contar com Maradona, a Argentina não terá sua força total.) O jogo, a rigor, não valeria nada, se não fosse a rivalidade mortal entre os dois países.
Trata-se, historicamente, de um dos confrontos mais equilibrados entre seleções nacionais de futebol. De acordo com o levantamento de Duílio Martino, grande especialista na história da seleção brasileira, o Brasil venceu 34 jogos e perdeu 35 da Argentina. De acordo com a CBF, há empate: 29 vitórias para cada lado.
Seja como for, cada partida entre os dois países é uma guerra, atiçada ainda mais, nos tempos recentes, por dois eventos: a punição a Maradona, na Copa de 94, vista pelos platinos como uma armação da Fifa (leia-se João Havelange) para tirar a Argentina do caminho do Brasil; e o gol irregular de Túlio, que possibilitou a vitória brasileira (nos pênaltis) no último confronto entre as duas equipes, na Copa América, em julho último.
Cada embate entre brasileiros e argentinos é como a reedição de uma guerra ancestral, de dimensões mitológicas, como o nosso Fla-Flu. Nelson Rodrigues costumava dizer, com sua verve habitual, que "o Fla-Flu começou 45 minutos antes do nada". O mesmo se pode dizer de Brasil e Argentina.
O mais interessante é que, apesar da rivalidade histórica, Brasil e Argentina nunca se enfrentaram numa final de Copa do Mundo -ao contrário do que ocorreu com outros de nossos inimigos eternos, como a Itália e o Uruguai.
Em 1990, os argentinos nos botaram para fora no meio do torneio, vingando o que tínhamos feito com eles em 82. Em 1994, mesmo que a Argentina não tivesse sido prematuramente eliminada, as duas seleções não se cruzariam de modo algum na final, mas sim na semifinal.
Talvez até por isso, cada Brasil x Argentina é como essa final que nunca houve. Analogamente, a despeito de inúmeras escaramuças de fronteira, desde a Guerra de Rosas, em meados do século passado, nunca ocorreu um confronto bélico direto entre os dois países.
As duas maiores nações da América do Sul canalizam assim sua rivalidade, seu desejo de supremacia continental, para o campo de futebol. Quem dera todas as disputas do mundo fossem resolvidas dessa maneira. Se palestinos e israelenses soubessem jogar bola, talvez a história contemporânea fosse diferente.
O futebol bem jogado (e jogado com paixão) tem a grandeza dramática, o efeito catártico das grandes epopéias. Por isso é uma bobagem dizer que, no esporte, o importante é competir. Pelo menos num Brasil x Argentina, o importante, o primordial, o indispensável é vencer. Nem que seja com gol de mão.
Afinal, como já escreveu sabiamente o cronista Luís Fernando Veríssimo, "contra a Argentina tudo é pé".

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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