São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Paco de Lucia se apresenta com sexteto

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Paco de Lucia e Sexteto
Quando: hoje e amanhã, às 21h; e domingo, às 11h, no Ibirapuera (show gratuito)
Onde: Tom Brasil (R. das Olimpíadas, 66, Vila Olímpia, tel. 011/820-2326)
Quanto: Ingressos esgotados

Responsável pela difusão do flamenco no mundo, junto com o cineasta Carlos Saura, o violonista espanhol Paco de Lucia, 49, volta ao Brasil pela sétima vez.
Começa hoje, em São Paulo, uma turnê que inclui espetáculos no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre. Em São Paulo, ele se apresenta hoje e amanhã, no Tom Brasil, e domingo, em um show gratuito no Ibirapuera.
Na verdade, Paco já perdeu a conta de quantas vezes veio ao Brasil, seja para shows ou em viagens particulares.
"Sempre é uma festa vir ao Brasil. Não sou uma pessoa contente, geralmente, mas chegando ao Brasil me sinto alegre. Tudo é bonito, a vegetação, o clima, as pessoas, a música", explica.
Não que ele seja triste ou mal-humorado. "Sou um otimista bem informado", brinca.
Dessa vez, ele se apresenta com um sexteto -uma formação não tradicional no flamenco, por incluir baixo, percussão e saxofone.
A banda tem dois irmãos, Ramon de Algeciras (violão) e José Sanchez Gomes (cantor), Juan Manuel Cañizares (violão), Jorge Pardo (sax e flauta), o brasileiro Rubem Dantas (percussão) e um dançarino, Joaquin Grillo.
É o mesmo show que percorreu Europa, Japão e EUA.
O repertório inclui "Alcazer de Sevilla", "Mi Ninõ Curro" e "Callejon Del Muro".
Paco acabou de trabalhar mais uma vez com o amigo Saura, no filme "Flamenco", que estreou recentemente na Europa e foi indicado pelo governo espanhol para concorrer à indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Os fãs de Saura já sabem que verão bailarinas sensuais. Uma imagem do flamenco que não é compartilhada por Paco.
"Tenho uma imagem um pouco abstrata do flamenco. É a expressão de uma voz de um velho cigano, que não tem nada a ver com as bailarinas bonitas dos filmes do Saura", afirma.
Para ele, a essência do Flamenco está na voz: "O canto é a essência mais pura do flamenco, toda a tradição está no canto. O violonista nunca tinha sido importante na música flamenca, era mais um acompanhante. Eu fui o primeiro a ter destaque."
Quando criança acalentava o sonho de ser um cantor. A timidez o impediu. Resolveu se esconder atrás de um violão. "Eu tinha vergonha de abrir a boca. Quando toco, o violão é o protagonista", afirma.
Com o passar dos anos, desenvolveu uma relação conturbada com seu instrumento.
Viajou ao Brasil sem seu violão -que chegou ontem com o resto da banda- e não toca há cinco dias. Saudades?
"Nenhuma saudade", ri. "A guitarra é minha paixão e o meu tormento. É um instrumento que toma muita energia. Representa minha ansiedade, angústia e responsabilidade", completa.
Ele compara seu relacionamento com o violão a um casamento. E onde sempre há espaço para reconciliações.
"O flamenco é meu mundo, a minha expressão. É como falar meu próprio idioma", afirma.

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