São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Noa Ben-Artzi, 18, fala sobre o avô

Avó chora durante o discurso

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Todos os líderes de governo que falaram no funeral de Yitzhak Rabin exaltaram suas qualidades de estadista, mas o discurso mais emocionado foi o da neta do primeiro-ministro israelense assassinado.
Noa Ben-Artzi, 18, que discursou no cemitério Monte Herzl, em Jerusalém, pediu desculpas a todos que a ouviam por não querer falar de paz, e sim de seu avô.
"A TV não pára de mostrar imagens suas, e você está tão vivo, tão real, que até poderia tocá-lo, mas não posso", disse Noa. Ela lembrou de seu avô como "herói, um lobo solitário."
Chorando muito, Ben-Artzi afirmou: "Não há em mim desejo de vingança, porque a dor não deixa espaço".
"Pessoas mais importantes do que eu já te elogiaram, mas nenhuma delas conheceu como eu a ternura de seu carinho, o seu sorriso que dizia tudo e que, agora, não existe mais", disse.
"E sei que eles (os líderes) lamentam sua morte em termos de desastre nacional. Mas como ficar em paz com sua dor quando a vovó não pára de chorar, e nós ficamos calados, sentindo um grande vazio, agora que você se foi?", disse Ben-Artzi.
Sua avó, Leah Rabin, 67, tentou esconder as lágrimas atrás do óculos escuro durante o funeral. Mas as palavras da neta a levaram a um choro compulsivo.
Leah conheceu Yitzhak Rabin em 1944, quando ele lutava no movimento judaico Palmach. Casaram-se quatro anos depois e tiveram dois filhos.
Durante cinco décadas Leah compartilhou dos triunfos do marido. Rabin foi o comandante do Exército israelense na Guerra dos Seis Dias (1967), embaixador nos EUA e duas vezes primeiro-ministro.
Rabin foi obrigado a renunciar ao cargo de premiê em 1977 por causa de a uma investigação de que o casal manteria uma conta bancária ilegal nos EUA.
Depois de 15 anos, ele voltou ao poder, e Leah anunciou que seu marido estava vingado.
"Haviam cometido uma injustiça com Rabin, e eu acreditava durante todos esses anos que a história seria refeita", disse Leah, em 1992, logo depois de Rabin vencer as eleições.
Quando o premiê começou a negociar a paz com os árabes, ela confessou em uma entrevista que se sentia assustada com as demonstrações dos judeus contrários às iniciativas de Rabin.
Três anos depois, seu discurso mudou. Uma manifestação de apoio a Rabin foi realizada em frente a sua casa no dia seguinte ao atentado. Leah foi até a porta agradecer e perguntar onde eles estavam quando seu marido era acusado de traidor.
No sábado, horas após o atentado em que Rabin morreu, ela disse por telefone para o presidente dos EUA, Bill Clinton, que havia vários anos ela não via seu marido tão feliz quanto naquele dia.
Ontem, enquanto o rei Hussein, da Jordânia, discursava no funeral de seu marido, Leah Rabin chorava silenciosamente.

Texto Anterior: Yitzhak Rabin é enterrado em Jerusalém
Próximo Texto: QUEM FOI
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.