São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 1995
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Uma guerra

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na Bandeirantes:
- Os policiais e os sem-terra travaram uma verdadeira guerra. Durante 45 minutos, mais de 90 soldados enfrentaram uma centena de sem-terra, entre eles crianças e mulheres.
Uma fotografia em preto e branco mostrou uma mulher com bebê no colo e outra criança pela mão, os três chorando e saindo levados por policiais.
Na CNT, a rede criada no Paraná, o diálogo com uma mulher sem-terra que cozinhava ao ar livre, crianças em volta, em área cedida pelo prefeito:
- Ficou muita gente sem nada, só com a vida mesmo. O resto queimou. Os polícias queimaram tudo. O povo está doando roupa, comida, alimento aí.
- Quem sofre mais são as crianças.
- São as crianças. E as mulheres. Tem mulher gestante que apanhou dos polícias.
Foi no Paraná de Jaime Lerner, onde a polícia não segue estratégia muito diferente da violência da polícia de São Paulo, em relação às mulheres e aos filhos dos invasores sem-terra.
Aliás, com os homens teria sido ainda pior, na descrição de um dos que escaparam, na Globo, no Jornal Nacional:
- Os sem-terra que eles conseguiam pegar eles atiravam na perna. Os que eles não conseguiam pegar eles atiravam nas costas.
Daí, talvez, terem levado três dos sem-terra para a UTI. Mas Jaime Lerner não se deixa abalar. Ontem na CNT, ele apoiou os policiais, acusou "pessoas infiltradas" e acrescentou:
- Eu tenho certeza que isso foi até provocado, para que se descaracterize... Eu acho que isso vem até prejudicar o movimento dos sem-terra.
Não é bem o que pensa o superintendente do Incra no Paraná, segundo o qual, na Bandeirantes, "havia um acordo com os sem-terra que foi desrespeitado pelo governo estadual". E mais:
- Os sem-terra foram colocados à margem da rodovia, para aguardar a decisão. Houve um incidente na faixa da rodovia.
Quer dizer, o secretário de Segurança, que deu a ordem, segundo a CNT, mandou tirar os sem-terra de uma estrada.
É como bater em pobre, mulher e criança por atrapalhar o trânsito.

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