São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 1995
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Secretário cai após criticar direitos humanos

SILVIA DE MOURA; CLÁUDIA TREVISAN
DA AGÊNCIA FOLHA

CLÁUDIA TREVISAN
O general Luiz Edmundo Pinto de Souza Mello pediu exoneração ontem do cargo de secretário da Segurança Pública do Espírito Santo, dois dias depois de ter ameaçado presos que mataram um policial e criticado a política de defesa dos direito humanos.
Entidades ligadas à defesa dos direitos humanos criticaram ontem as declarações do general.
Na terça-feira, 11 presos se rebelaram e fugiram da delegacia de Vila Velha (Grande Vitória).
Durante a fuga, mataram com um tiro de escopeta o policial Dair de Araújo Prado, 40, que chegava ao trabalho. Em operação de busca, quatro fugitivos foram mortos e dois recapturados.
No mesmo dia, o ex-secretário da Segurança disse que não se faz justiça com direitos humanos. "Não é assim que se faz justiça. Não é assim que se faz segurança pública", afirmou.
O general chegou a chorar pela morte do policial. Olhando para uma câmera de TV, ameaçou: "Vou atrás de vocês (os assassinos) até o inferno".
Numa referência aos que atuam na defesa dos direitos humanos, Mello afirmou em seguida: "Depois quero todos esses carinhas atrás de mim, me condenando."
As declarações provocaram reação imediata da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado, que exigiu do governador Vitor Buaiz (PT) a exoneração do general.
Para a deputada Brice Bragato, líder da bancada do PT e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, "prevaleceu o bom senso, tanto da parte do governo como da parte do general".
O presidente da Comissão de Justiça e Paz da Cúria Metropolitana de São Paulo, Antonio Funari Filho, por exemplo, afirmou que as afirmações do general significam uma agressão à própria ordem constitucional.
A Constituição brasileira, segundo Funari, consagrou a defesa dos direitos humanos como um de seus princípios. "Não podemos ter uma autoridade que prega o desrespeito à lei, afirmou.
O deputado Hélio Bicudo (PT-SP), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, condenou o fato de generais ocuparem as secretarias de Segurança Pública nos dois Estados governados pelo PT -Espírito Santo e Distrito Federal.
Bicudo observou que a defesa dos direitos humanos é um dos fundamentos da atuação do PT. "As declarações do general foram em sentido totalmente contrário.
Na opinião do reverendo presbiteriano Jaime Wright, as afirmação são semelhantes às usadas durante o regime militar. Wright é um dos autores do livro "Brasil Nunca Mais, que levantou casos de tortura praticados no período.
O reverendo também condenou a escolha de um general para o cargo. Segundo ele, há civis capacitados para exercer a função.
A assessoria de imprensa do governador Vitor Buaiz disse que ele estava em reuniões e não poderia atender a Agência Folha.
Na terça, Buaiz tentou justificar as declarações de Mello dizendo que ele se encontrava "sob forte crise emocional por ter presenciado a morte de um policial".
Procurado ontem por telefone, o general Mello informou, por intermédio de um assessor, que não concederia entrevistas.
O subsecretário da Segurança, Adão Rosa, 47, assumirá o cargo. Ele é delegado de classe especial aposentado e está na Polícia Civil há 20 anos.

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