São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

É hora de bater palmas para Zagallo

CANDINHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A grande vitória do Brasil diante da Argentina, anteontem, mostra que o técnico Zagallo faz um bom trabalho na seleção e está no caminho certo. Ninguém pense que um técnico que está longe da seleção só é capaz de apontar defeitos no trabalho que lá é desenvolvido -pelo menos, essa não é minha postura. E o momento é de bater palmas para Zagallo.
Seu trabalho merece ser exaltado porque ele tem feito as coisas certas na preparação para o Pré-Olímpico. Parte do fracasso na última edição se deveu ao fato de, naquela seleção, não terem sido misturados jogadores jovens com experientes. Zagallo está sabendo evitar isso.
Hoje, Narciso tem a chance de estar lado a lado com Aldair, que tem mais de 40 jogos com a camisa do Brasil. O jovem Rodrigo pode trocar figurinhas com Cafu. Mesmo quando o jogador não atua, como foi o caso de Caio, é importante participar do grupo que conseguiu uma vitória diante de uma dos maiores rivais do Brasil, na casa do adversário.
Zagallo também merece aplausos pela inteligência na armação do time para essa partida específica. Ele foi sábio em aproveitar o entrosamento dos palmeirenses no meio-campo e dos botafoguenses no ataque, depois de só ter podido fazer um treino com os convocados. Fez Donizeti voltar mais do que está acostumado no Botafogo e conseguiu fazer de Amaral um segundo volante que também atuou no ataque. A saída de bola da defesa esteve perfeita, especialmente no primeiro tempo, com Aldair e André Cruz alternando saídas com os laterais e pelo meio.
Claro que contou com o talento de seus comandados. Individualmente, eu destacaria a dupla de zaga e Amaral. Aldair mostrou a categoria e a segurança de sempre, no chão e pelo alto. André Cruz anulou Batistuta. E o jogador palmeirense foi a grande figura do meio-campo, bem na marcação e nas idas ao ataque.
A Argentina se mostrou muito aquém das grandes seleções que já conhecemos. O time estava desestruturado, os atletas sem confiança para jogadas individuais, os passes errados em excesso. Batistuta não fez nada. Simeone, bem marcado, também pouco apareceu.
O jogo foi um retrato do momento que vive o futebol dos dois países. O Brasil veio com caras novas e competentes, como Rivaldo e Flávio Conceição. Pôde prescindir de jogadores consagrados, como Mauro Silva e Bebeto. Imagine que a seleção desempenhou bem e ainda tinha no banco gente do quilate de Giovanni e Sávio. Na Argentina, nada de novo apareceu e mesmo Trotta, que todos dizem jogar bem, não mostrou inspiração.
Para completar os fatores que prometem um grande futuro para a seleção, é preciso citar a ausência de estrelismo.
Não vejo "disputa de beleza" ou salto alto entre os jogadores brasileiros, mas o caso mais interessante é o do capitão Aldair, dono de uma humildade proporcional a seu talento. Isso é uma boa prova do clima especial que há nessa seleção.
Por isso, Zagallo está de parabéns.

Texto Anterior: Ameaçado, Passarella admite chamar Maradona
Próximo Texto: E agora, Bowe?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.