São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995 |
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Máquina destrói vestígios de quilombo
ARI CIPOLA
Três potes de cerâmica -um contendo dentes humanos e búzios- foram quebrados. Isso deve dificultar o trabalho de resgate arqueológico da história do Quilombo dos Palmares, último foco de resistência militar de Zumbi contra as tropas coloniais. O trabalho da prefeitura, que deseja manter o local limpo para receber as autoridades no próximo dia 20, revoltou o movimento negro e a comunidade científica que se dedica a estudar o quilombo. Eles haviam recomendado à prefeitura que não voltasse a usar uma motoniveladora -um equipamento pesado que não deve ser utilizado em áreas com interesses arqueológicos-, como vinha sendo feito havia oito anos. O secretário de Cultura do município, Paulo de Castro Sarmento Filho, 40, afirmou que levou os dentes encontrados em um dos vasos para sua casa. Ele afirmou que voltou a enterrar os potes. Entre as 2.448 peças colhidas em 14 sítios arqueológicos na Serra da Barriga em 92 e 93, apenas um vaso de cerâmica havia sido encontrado. A maioria das peças são cacos de cerâmica. Os trabalhos arqueológicos não passaram da fase inicial, por falta de verba. A ação das máquinas nos últimos oito anos pode ter provocado o afloramento do sítio arqueológico do período da existência do quilombo do século 17. Segundo os pesquisadores, os vestígios estão à flor da terra, mais vulneráveis às máquinas. A motoniveladora trabalhou por dois dias na semana passada, retirando mais de 1 m de terra. Nesse nível foram encontradas partes das peças das pesquisas arqueológicas coordenadas pelo professor da Unicamp Pedro Paulo Funari. "É um descaso total com a história, com consequências graves para a pesquisa", afirmou Funari. Texto Anterior: Desrespeito à Justiça enfraquece democracia Próximo Texto: Secretário culpa 'falta de verba' Índice |
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