São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Missão difícil; Ética; Caixa Federal; Zoologia; Concorrência

Missão difícil
"Arafat, na entrevista à Folha (19/10), mostrou que não é um negociador modesto, pois declarou nunca ter feito nada de que pudesse arrepender-se. A afirmativa é extraordinária para quem praticou 'a democracia em circunstâncias revolucionárias, extremamente difíceis'. Estará, a partir de 4/5/96, envolvido em novas negociações sobre a paz, inclusive sobre o estatuto de Jerusalém. O 'verdadeiro' Islã, para ele, tem a sua principal plataforma na democracia e na tolerância. Dá a impressão de reconhecer a existência de dois Islãs ao qualificar um deles de 'verdadeiro'. Mas os divisionismos de Arafat não param por aí: Israel tem a sua própria Jerusalém, e os palestinos tem a sua, a parte oriental da cidade. O início das novas negociações coincidirá, praticamente, com a data centenária de divulgação da mensagem de um dos campeões da tolerância universal, que modestamente afirmou, em 1896, ter seu povo apreendido a tolerância na Europa ('O Estado Judeu', pág. 129). Theodor Herzl tinha para Jerusalém, em consideração aos lugares santos da cristandade, não planos de divisão da cidade, mas uma fórmula de extraterritorialidade. O povo judeu formaria uma 'guarda de honra' em volta desses venerandos lugares. Pensou Herzl, assim, na terceira religião interessada pela cidade. Inspirou-se, talvez, na ordem dos 'Pobres Cavaleiros de Cristo', que protegiam os peregrinos cristãos. O lema bíblico do movimento sionista será lembrado pelos negociadores judeus em 1996: 'Se eu te esquecer, ó Jerusalém, faça que minha mão direita perca sua habilidade' ('Israel: do Sonho à Realidade', pág. 115, de Chaim Weizmann). A divisão de cidades, muros e cercas de arame farpado não trazem boas lembranças ao gênero humano. E aquele sítio é pólo de atração não apenas de duas religiões... É dispensável bola de cristal para concluir que apenas um país tem condições de manter a segurança ali, e esse não é seguramente o de Arafat. Arafat deve lembrar a advertência do presidente filósofo Tomás Garrigue Masaryk ao povo tcheco, em 1918, lembrada por Menachen Beguin ('A Rebelião em Terra Santa', pág. 675): 'É difícil instaurar um Estado, mas recordai que é mais difícil todavia manter um Estado'. O líder do 'Irgún' deu uma sugestão que deve ser seguida por todo e qualquer estadista de país emergente, principalmente aqueles que, como ele, debutaram na política via terrorismo."
Antenor Demeterco Junior (Curitiba, PR)

Ética
"Quando escolhi para o meu livro o título 'Ética Mínima Para Homens Práticos', jamais passou pela minha cabeça que o mesmo poderia produzir efeitos assaz hilariantes em dois jornalistas da Folha. Em vez de procurar no meu texto uma explicitação do emprego do adjetivo 'mínima', o sr. Caio Túlio -movido pela preguiça ou pela leviandade- resolveu despejar indagações malformuladas decorrentes de fantasiosas ilações feitas a partir do mero título. Embora a arte de evitar equívocos seja uma das mais difíceis, os lamentáveis mal-entendidos do sr. Caio Túlio Costa poderiam ter sido facilmente evitados. Bastaria que ele se desse ao trabalho de abrir o meu livro na pág. 26. (...) 'Trata-se de uma Ética Mínima. Em primeiro lugar, porque está baseada em um pequeno número de princípios de caráter universal e negativo (negativo no sentido de que não se trata de estabelecer como as pessoas devem se comportar, porém como não devem)'. Poderia eu ter sido mais claro? Como dizia Ortega y Gasset, 'a clareza é a cortesia do filósofo'. Porém ela recebe às vezes como contrapartida a descortesia daqueles que resolvem criticá-lo sem lê-lo. O caso do sr. Caio Túlio Costa não é uma questão de 'ética mínima', porém de 'ótica mínima'!"
Mario A.L. Guerreiro (Rio de Janeiro, RJ)

Caixa Federal
"O 'analista', 'jornalista' ou seja lá o que for o sr. Valdo Cruz deveria poupar-se do ridículo ao manifestar suas opiniões na Folha. Exemplo dessa situação constrangedora é o conteúdo da coluna de 28/8. O 'colunista' dá a entender que a atual diretoria da Caixa Federal é um exemplo de 'profissionalismo' e de 'competência apolítica'. Para provar esses predicados e conferir 'louros patrióticos' ao presidente da CEF constatou que, em Pernambuco, o sr. Sérgio Cutolo realizou a mágica de substituir o trabalho de 1.200 funcionários por tarefas que apenas cem empregados estão capacitados a fazer. Na verdade, os 1.100 'empregados restantes' não passarão a 'se dedicar diretamente ao cliente', pois serão distribuídos entre agências e centrais de logística. Além de imaginar milagres, o sr. Valdo Cruz esquece de abordar as nomeações políticas para a chefia dos escritórios de negócios (indicações do PFL, no Nordeste) e a ajuda de Sérgio Cutolo ao Banco Econômico. É certo que a CEF precisa mudar. Entretanto, antes de atacar os empregados da empresa com absurdas acusações de 'ociosidade' e nomear Sérgio Cutolo como 'paladino da moralidade e da eficiência', seria bom que os 'brilhantes' analistas aproximassem mais o seu olhar da verdadeira realidade."
Jorge Cruz Marçal (Porto Alegre, RS)

Resposta do jornalista Valdo Cruz - Já fui cliente da Caixa. Ainda me lembro das cenas que presenciava. Filas enormes, poucos funcionários no atendimento. Enquanto isso, uma "multidão" de funcionários ficava voltada para trabalhos burocráticos. Espero que cenas como essa se transformem em coisas do passado. Em tempo: depois de implantados, os escritórios de negócios absorveram em média apenas 48 funcionários cada.

Zoologia
"Moro no Rio, mas sou paulistano, fiel torcedor da S.E. Palmeiras. Prefiro a denominação 'periquitos' para os componentes da equipe esmeraldina. 'Porco' é de tremendo mau gosto!"
Luiz Fernando de Francisco d'Ávila (Rio de Janeiro, RJ)

Concorrência
"Nos últimos tempos todo o povo brasileiro tem recebido uma enxurrada de informações e elogios a Curitiba e aos governantes dessa cidade. Em nenhum momento será estranho que um desses senhores seja lançado pela mídia candidato a presidente. 'Oxalá' eles transformem o Brasil em país de Primeiro Mundo, como fizeram com Curitiba. Como seria se eles pegassem para governar uma cidade com milhares de problemas como Porto Alegre? Será que eles seriam os primeiros na preferência de seu povo e ovacionados como o prefeito Tarso Genro? Por que a mídia não retrata com o mesmo espaço o trabalho que está sendo feito aqui?"
Noris Mara Pacheco Martins Leal e Paulo Erley Veiga Leal (Porto Alegre, RS)

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