São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Educador critica ataque a computador

DE NOVA YORK

O misto de comunicólogo e educador Neil Postman, professor da New York University, não se considera um neoludita, mas afirma ter muito em comum com o resto do grupo.
"Não acho que destruir as máquinas vá adiantar muito. Os males da revolução tecnológica são muito mais complexos e difíceis de combater", disse Postman em entrevista à Folha.
Postman afirmou também que os neoluditas são ingênuos na hora de resolver os problemas, mas suas críticas são pertinentes.
Ao contrário do neoludita Kirpatrick Sale, que afirma ter "adorado" a experiência de destruir um computador, Postman diz que o ato nunca passou por sua cabeça.
"É uma selvageria. Acho que vale como forma de extravasar uma angústia, mas o resultado prático é simplesmente nenhum."
Autor de 15 livros sobre educação, teoria da comunicação e linguística, Postman foi por vários anos editor da revista de semiótica "Etcetera".
Vem daí sua preocupação com os efeitos que a difusão das novas tecnologias tem causado na capacidade dos norte-americanos em usar a língua inglesa.
Para ele, o problema da tirania causada pelas novas tecnologias é que as pessoas não têm a noção de que estão sendo dominadas.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Postman, na qual ele afirma que poderia ser um discípulo de Aldous Huxley e elogia as críticas do autor feitas ao livro "1984".
Folha - O sr. recusa o título de neoludita, mas é um dos maiores críticos da revolução tecnológica.
Neil Postman - Nem todos os que fazem restrição à tecnologia têm de ser necessariamente neoluditas. Não gosto de rótulos, mas se tiver de me chamar de alguma coisa, prefiro que me chamem de Huxleyano (discípulo de Aldous Huxley, autor de "Admirável Mundo Novo").
Folha - O sr. afirmou recentemente que os norte-americanos estão embriagados pela tecnologia. Por que usou esta palavra?
Postman - Porque nós estamos num estado de torpor, não conseguimos colocar as coisas em perspectiva. A sociedade norte-americana está cometendo um erro muito sério ao assumir que os frutos da tecnologia são automaticamente positivos.
Folha - Em "Amusing Ourselves to Death", o sr. cita bastante Aldous Huxley. Qual a importância que ele teve em seu trabalho?
Postman - Ele disse antes de mim coisas que eu gostaria de ter escrito. Como a crítica ao livro "1984", de George Orwell. Como disse Huxley, não será preciso banir os livros porque ninguém vai querer ler um.
Esse é o resultado mais desastroso da revolução tecnológica. É com isso que precisamos nos preocupar. É por isso que insisto que quebrar computadores é perda de tempo e energia.
Folha - O sr. disse que o principal problema da tirania causada pelas novas tecnologias é que as pessoas não terão noção de que estão sendo dominadas.
Postman - Exatamente. Elas aceitarão sem rebeldia a opressão causada pela expansão sem limites da tecnologia porque terão perdido a capacidade de pensar.
Isso forma um círculo vicioso, a tecnologia faz com que as pessoas não raciocinem. Só que, ao pararem de pensar, elas passam a aceitar que a tecnologia continue dominando suas vidas.

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