São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Automobilística tenta sobreviver à crise

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de trabalho para o engenheiro automobilístico vive um dilema. De um lado, a indústria nunca demitiu tanto. De outro, a produção é recorde.
A produção prevista até o final do ano é de 1,64 milhão -3,7% a mais do que no ano passado, quando as montadoras fabricaram 1,58 milhão de unidades.
Automobilística é especialização do curso de mecânica. A única faculdade que o oferece em graduação no país é a FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), de São Bernardo do Campo (18 km a sudeste de São Paulo).
Ricardo de Andrade Bock, 42, coordenador do curso, diz que os estudantes "aprendem tudo, mais a especialização".
Segundo ele, metade dos estudantes é aproveitada por montadoras e a outra metade, pela indústria de autopeças.
"Algumas coisas favoreceram o curso. A localização estratégica da FEI é um exemplo."
"Mas o mercado está complicado. A indústria não tem absorvido muita gente", afirma Guilherme Sortino, 36, engenheiro e gerente da SAE (Society of Automotive Engineers), que reúne engenheiros da área automotiva.
"A indústria está terceirizando soluções específicas de engenharia, em vez de engordar seu quadro de funcionários", afirma. Terceirizar é contratar serviços de outras pessoas.
Para Sortino, a "especialização facilita a entrada dos engenheiros recém-formados em algumas áreas da indústria".
Sortino, que trabalhou durante sete anos na Ford do Brasil, acha "extremamente positiva" o aprofundamento na área.
"Não fazê-lo é como tratar um assunto de um otorrinolaringologista (médico que cuida de ouvido, nariz e garganta) com um clínico geral", compara.
Segundo ele, as grandes oportunidades estão no setor de autopeças. "Existe um lugar determinado para cada um na indústria." Mas a fonte está quase seca.
Dados recentes do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo mostram uma queda no nível de emprego nos últimos cinco anos. De 1990 a 1994, a redução foi de 8% -caiu de 50 mil para 46 mil os regularmente contratados.
Formam-se, por ano, entre 6.000 e 7.000 engenheiros. "Então temos, nesse período, entre 30 mil e 35 mil que teoricamente não entraram no mercado", avalia Ubirajara Tannuri Felix, 45, presidente do sindicato.
"Com certeza, a automobilística ainda é uma modalidade nova", afirma, apesar de o curso ter sido criado em 1963.
Embora criticado por alunos e recém-formados de universidades públicas -principalmente pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo)- como sendo específico demais, o curso da FEI nunca motivou reclamação por discriminação de nenhum dos 120 mil engenheiros do Estado.
"O mérito da FEI é saber aproveitar o momento da indústria automobilística", afirma o diretor da Escola Politécnica da USP, Célio Taniguchi, 57.
Para ele, não há preferência por alunos de um ou outro curso por parte das indústrias.

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