São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
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Israel entrega Jenin para a Autoridade Palestina

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A JENIN

Depois de 28 anos de ocupação, o Exército de Israel retirou-se ontem da cidade de Jenin, na Cisjordânia, e a administração do local foi entregue à Autoridade Nacional Palestina.
A autonomia de Jenin estava prevista no acordo de paz Oslo 2, assinado pelo primeiro-ministro Yitzhak Rabin (morto por um extremista judeu em Tel Aviv no último dia 4) e por Iasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina, em Washington (EUA).
"A entrega da cidade apenas alguns dias após o assassinato do premiê Rabin é um importante sinal de que o processo de paz continua", disse à Folha o governador de Jenin, Hikmet Zaid, 50.
Jenin, com cerca de 200 mil habitantes (um quinto da população da Cisjordânia), é a primeira das sete cidades da Cisjordânia a receber autonomia até o fim do ano.
Ontem foi dia de comemoração na cidade, decorada com milhares de pequenas bandeiras palestinas penduradas nas ruas, como nas festas juninas no Brasil.
A imagem de Arafat estava presente em dezenas de cartazes espalhados por todos os cantos.
A festa começou logo cedo, por volta das 8h (4h em Brasília), quando os soldados israelenses entregaram o controle de Jenin a cerca de cem recém-chegados policiais palestinos.
Por volta das 10h, um comboio com cerca de 300 policiais palestinos chegou, vindo de Jericó. No total, cerca de mil policiais devem integrar a segurança da cidade.
Os policiais, símbolo da autonomia recém-conquistada, foram recebidos com dança nas ruas. Grupos de mulheres cantavam e emitiam um som estridente, tradicional dos povos árabes.
Ao entrar na cidade, os policiais levantavam suas armas e faziam sinais de vitória. A população, que lotava as ruas, as sacadas e os telhados das casas, respondia com a saudação: "Alá é grande.
"A minha sensação é a de uma mãe que reencontra um filho que considerava perdido", afirmou à Folha um policial palestino, no momento em que chegava a Jenin.
"Este é um dia sagrado para os palestinos, o dia em que voltamos para nossa terra. Hoje foi Jenin, amanhã será Jerusalém", afirmou Abu Auad, oficial de alto comando da polícia palestina.
Segundo o governador Hikmet Zaid, a maioria da população apóia a Autoridade Nacional Palestina, mas extremistas palestinos, assim como ex-colaboradores do Exército israelense, podem criar problemas para a administração. "Nosso primeiro objetivo é garantir a segurança de Jenin na visita de Arafat."

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