São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Ameaças não esvaziam votação na Argélia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Milhões de pessoas ignoraram ameaças de grupos muçulmanos radicais e fizeram filas para votar nas eleições presidenciais de ontem na Argélia, as primeiras na história do país.
Segundo um comunicado do Ministério do Interior emitido uma hora antes do fechamento dos postos de votação, mais de 65% dos 16 milhões de eleitores já haviam comparecido.
À tarde, quando o governo estimava o comparecimento às urnas em 46%, a FIS (Frente Islâmica de Salvação), partido colocado na ilegalidade pelo regime militar argelino, disse que apenas metade deste contingente havia votado.
O ministério afirmou que, por causa do "grande comparecimento", algumas sessões eleitorais ficariam abertas até duas horas depois do horário oficial, 19h (16h em Brasília).
Na hora marcada para o fechamento das seções eleitorais, um funcionário do governo disse à agência "Reuter" que o comparecimento já ultrapassava 70%.
Um comparecimento expressivo é considerado fundamental pelo governo para a legitimação do pleito.
A FIS, considerada vencedora das eleições parlamentares de 1992, anuladas em um golpe militar, está na ilegalidade.
Cerca de 50 mil pessoas morreram na Argélia em consequência da violência atribuída a radicais islâmicos desde a anulação das eleições de 1992.
Os principais partidos de oposição pediram um boicote à votação.
O GIA (Grupo Islâmico Armado) e o ESI (Exército de Salvação Islâmica, braço armado da FIS) prometeram impedir as eleições.
Os grupos são acusados de assassinatos e atentados a bomba e ameaçaram o eleitorado, afirmando que as urnas seriam "transformadas em caixões".
Apesar das ameaças, a mídia local registrou apenas um incidente. A explosão de uma bomba caseira causou uma rachadura em um muro de uma escola.
Milhares de policiais e soldados do Exército trabalharam na segurança dos 7.833 postos de votação em todo o país.
O presidente do país, Liamine Zéroual, votou pela manhã em uma escola próxima ao palácio presidencial em Argel (capital). Ele é o favorito para vencer a disputa.
Mahfoud Nahnah, líder do partido islâmico Hamas, registrou seu voto em Tipasa, noroeste do país. Depois de votar, ele subiu no telhado de uma casa e soltou pombas. "Isto é pela paz", afirmou.
Pouco depois, entretanto, um porta-voz do partido de Nahnah denunciou a prisão de ativistas do Hamas em cinco Províncias.
Segundo ele, um dos militantes do partido foi torturado e morto por policiais.
Ele afirmou que o homem foi preso em 12 de novembro por protestar contra a colocação de cartazes do candidato do governo sobre propaganda de Nahnah.
O resultado da eleição deve ser anunciado hoje. Uma estimativa divulgada ontem pela rádio Argel dava a vitória a Zéroual no primeiro turno (58% a 66% dos votos).
Em segundo lugar estava o antiislâmico Said Saadi (14% a 19%). Nahnah vinha logo atrás (13,5% a 18,5%). O islâmico moderado Noureddine Boukrouh ficaria em quarto lugar (5% a 9% dos votos).
"Vim votar para que o país possa emergir da crise e eu possa participar na construção de um futuro para meus filhos", afirmou um homem idoso.
Ele foi o primeiro a votar em uma seção eleitoral do centro de Argel, onde homens e mulheres formavam filas separadas. Ele não quis se identificar.
Os muros do distrito de Casbah, o principal bairro islâmico da capital, foram pichados com mensagens de grupos radicais. "A jihad (guerra santa) não vai cessar", dizia uma das pichações.
As entradas do distrito foram patrulhadas por policiais fortemente armados, fardados e em trajes civis. Helicópteros sobrevoaram a capital, Argel.
Guardas paravam quase todos os carros nas ruas de áreas islâmicas, checando documentos e procurando armas e bombas.

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