São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Saberes

Como relatou o correspondente da Folha em Nova York Gilberto Dimenstein em coluna recente, avalia-se que de 500 mil a 1,5 milhão de crianças norte-americanas estão dispensando a escola e fazendo a sua formação por meios virtuais, como a Internet ou os CD-ROMs educativos.
É evidente que o computador pode ajudar -e muito- no aprendizado. As melhores e mais recentes publicações científicas sobre os mais variados temas circulam livremente pela Internet antes mesmo de serem publicadas nas revistas especializadas.
O problema é separar o joio do trigo, pois, pelas características da própria Internet, circulam pela rede desde os textos de Prêmios Nobel até os produzidos por renomados charlatões. O mesmo vale para os CDs "educativos": há bons produtos no mercado, mas também existem verdadeiras excrescências do conhecimento humano.
Para além do fato de ser necessária alguma orientação para o jovem -o que, no limite, pode ser feito pelos pais ou pelas escolas virtuais que já começam a surgir-, existe uma idéia mais ampla de educação que jamais poderá ser substituída pelo computador: a sociabilidade.
Embora seja possível "conversar" virtualmente pelo computador, esse tipo de convívio escapa ao conceito mais tradicional segundo o qual as pessoas se vêem, se tocam e se conhecem de uma forma que bytes e impulsos telefônicos jamais serão capazes de mimetizar.
O filósofo britânico Gilbert Ryle faz a distinção entre dois tipos de saber: o "saber que" e o "saber como". No primeiro, a informação acerca de determinado fato (e.g. a Revolução Francesa ocorreu em 1789) pode ser facilmente transmitida. Já o "saber como" é algo mais complexo. Um professor de natação, por exemplo, obviamente sabe nadar, mas não é repetindo "in aeternum" que ele sabe nadar que ensinará seu pupilo a fazer o mesmo. Trata-se de uma outra forma de transmissão de conhecimento.
O risco da escola computadorizada é que se aprenda muito o "saber que" em detrimento do socialmente mais importante "saber como".

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