São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Juro, dólar e salário pressionam contas

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

As contas do governo se deterioraram neste ano por uma combinação de três fatores: altas taxas de juros, excessiva entrada de dólares e salários do funcionalismo.
O peso dos dois primeiros fatores cairá no próximo ano. A taxa de juros será a metade da praticada neste ano e a entrada de dólares sofrerá restrições. Já o controle dos salários depende da votação da reforma administrativa.
No início deste ano, com o objetivo de esfriar o consumo, o governo impôs severa restrição à concessão de crédito. Essa política incluiu a elevação da taxa de juros aplicada pelo Banco Central, que chegou em março ao recorde de 4,2% ao mês.
Governo devedor
Isso aumentou o gasto público, porque o governo é devedor, ou seja, é pagador de juros. Em março último, a dívida interna do governo federal era de cerca de R$ 65 bilhões.
Não é uma dívida alta para os padrões internacionais. Representa pouco mais de 10% do Produto Interno Bruto, a soma das mercadorias e serviços produzidos no país.
Em economias estáveis, essa relação passa de 50%. Mas a taxa de juros nesses países é, no ano, igual a um mês da taxa brasileira.
Enxurrada de dólares
Na outra ponta, o estoque da dívida cresceu por causa da excessiva entrada de dólares, que os investidores externos trouxeram justamente para aproveitar as altas taxas de juros pagas aqui.
O mecanismo é o seguinte: o investidor deixa dólares no BC e recebe reais que aplica no mercado financeiro. Mas para impedir uma enxurrada de reais na economia, com pressão inflacionária, o BC vende títulos da dívida e recolhe os reais.
No resultado final, aumentam a dívida e a conta de juros. O governo pôde utilizar esse mecanismo, de março para cá, também com o objetivo de aumentar as reservas, porque sua dívida havia caído desde o início do real.
Havia, portanto, espaço para o crescimento da dívida interna, compensado, inclusive, pela queda da dívida externa.
Só isso já vai reduzir a entrada de dólares. Mesmo assim, há expectativa de que o governo colocará novos instrumentos para restringir a entrada excessiva de dólares. Ou seja, juros e dívida pesarão menos nas contas do governo.
Já os salários do funcionalismo e dos inativos, na melhor das hipóteses, permanecerão estáveis. Isso porque, mesmo sem reajuste geral, a folha de pagamentos cresce vegetativamente pela incorporação de gratificações, aumentos por antiguidade e pelas aposentadorias, pois inativos ganham mais que na ativa.
Até o ano passado, o governo tinha um método infalível para arrochar salários. Era só deixar que a inflação alta consumisse os reajustes concedidos. Com um ano de inflação baixa, e ainda descendente, esse truque acabou.
Arrocho à vista
E a folha de salários é o principal gasto. Consome 40% das receitas federais, muito mais que a conta de juros internos (7,7% em outubro). A conta de juros externos foi alta em outubro, mas porque há pagamentos anuais e semestrais nesse mês.
Só a reforma administrativa, permitindo a demissão de funcionários e a redução de salários, dará condições para resolver a conta de salários. Enquanto isso, é certo que o governo vai tentar arrochar o reajuste do funcionalismo.

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