São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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"Don Giovanni" acredita que é um Deus

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ópera: "Don Giovanni", de Wolfgang Amadeus Mozart e Lorenzo Da Ponte
Direção: Isaac Karabtchevsky (musical) e Maria Francesca Siciliani (cênica)
Onde: Teatro Municipal de São Paulo
Quando: dias 18, 21, 22, 23, 24 e 25 às 20h30; dias 19 e 26 às 17h
Preço: de R$ 10 a R$ 40

O libertino "Don Giovanni", retratado pela ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), está com o saudável hábito de frequentar as rarefeitas cenas líricas brasileiras.
Nos últimos seis anos, foi objeto de uma montagem de Sérgio Bianchi, em Curitiba, uma outra de Gianni Ratto, no Rio, e ainda uma terceira de Bia Lessa, em Fortaleza, que em agosto de 1992 foi encenada em São Paulo no Teatro Municipal.
A obra, estreada em Praga em 1787, volta ao Municipal a partir de hoje, para oito récitas com direção musical do brasileiro Isaac Karabtchevsky, 61, titular da orquestra do teatro paulistano e também da orquestra do Teatro La Fenice, de Veneza.
A direção cênica é da italiana Maria Francesca Siciliani, com currículo por Bolonha e Catânia, antes de se fixar no Conservatório Santa Cecília, de Roma.
Esta é sua terceira montagem de "Don Giovanni". Para ela, "há uma profundidade filosófica no mito do sedutor, cujo prazer não se esgota na libertinagem, como ocorre com Giacomo Casanova".
Ao fim de um século 18 -quando Da Ponte escreveu o libreto-, argumenta, uma das questões centrais estava na existência de Deus, e "Don Giovann"i não é um agnóstico porque acredita encarnar ele próprio a divindade".
O barítono norte-americano Justino Diaz, 55, calcula já ter participado de duas dezenas de montagens desta ópera e concebe o papel título como o de um delírio sem freios, por parte de um libertino que se esforça para desconhecer a possibilidade de se dar mal.
Os papéis femininos, diz ele, são para Don Giovanni meros veículos do trajeto desse declive que o leva à morte.
Por mais que nem sempre essas sutilezas estejam presentes, o fato é que a montagem promete não chocar porque é de inequívoco tradicionalismo cênico. Os figurinos de época foram alugados ao Teatro Colón, de Buenos Aires. Os cenários, de J.C. Serroni, são feitos com base em arcos clássicos e a iluminação segue à risca as indicações das cenas de penumbra.
Durante o ensaio geral de anteontem, o maestro Karabtchevsky demonstrou procurar obter maior efeito de dramaticidade por meio da ênfase no tempo lento, com a acentuação de acordes espaçados.
A montagem, que custou R$ 250 mil segundo a Secretaria Municipal da Cultura, traz no primeiro elenco, além de Justino Diaz, a eslovena Ana Pusar (Donna Anna), o austríaco de origem inglesa John Dicke (Don Ottavio), a norte-americana Patricia Wise e o italiano Renato Girolami (Leporello).
Os brasileiros Rosana Lamosa (Zerlina) e Sandro Bodilon (Masetto) completam o elenco.
No elenco B estão o ucraniano Vladimir Poltorak e os brasileiros Adélia Issa, Fernando Portari, José Gallisa, Luiza de Moura, Sandro Christopher, Israel Pessoa e Andrea Ferreira.

LEIA MAIS
sobre "Don Giovanni" na pág. 5-6

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