São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Witte Fibe tem saudades do "Jornal da Globo"

ARMANDO ANTENORE
DO TV FOLHA

Há três semanas, Lillian Witte Fibe apresenta o "Jornal Nacional" em parceria com Cid Moreira. Cobre férias de Sérgio Chapelin até o próximo dia 2. Depois, volta para o "Jornal da Globo".
A emissora diz que a presença de Lillian no "JN" é casual. O titular entra de férias, alguém precisa substitui-lo.
Só que a substituta tem personalidade. No "Jornal da Globo", faz as vezes de âncora. Participa de toda a produção do programa, lê e comenta as notícias.
A dobradinha Lillian-Cid Moreira soa como teste. No novo posto, a jornalista quase sempre se restringe à função de locutora. Mas, às vezes, costura uma informação e outra com opinião. Nunca, em 26 anos de "JN", a Globo autorizou ousadia do gênero.
Leia, abaixo, a entrevista que Lillian concedeu à Folha.

Folha - Quando a Globo comunicou que você iria cobrir as férias de Sérgio Chapelin? Foi uma ordem ou um convite?
Lillian Witte Fibe - Foi uma ordem e um convite. Não tive tempo para pensar e acho que não poderia recusar. O próprio Evandro Carlos de Andrade (diretor da Central Globo de Jornalismo) me telefonou. Ligou para minha casa em cima da hora. Levei o maior susto. Fizeram tudo de repente.
Folha - É verdade que, logo depois da convocação, você procurou o Armando Nogueira (diretor da Central Globo de Jornalismo entre 1974 e 1990)?
Lillian - Sou amiga do Armando há algum tempo. Então, um dia antes de começar no "JN", o convidei para jantar. E brinquei: "Armando, não entro no ar sem tomar sua bênção."
Folha - Você pediu conselhos?
Lillian - Claro que pedi. Falei que estava morrendo de medo. Ele riu e disse: "Bobagem, é muito mais fácil do que fazer o 'Jornal da Globo'." De fato. No "JN", tenho o Cid Moreira me ajudando. No "Jornal da Globo", muitas vezes não respiro, vou direto.
Folha - Você gosta de apresentar o "JN"?
Lillian - Para falar a verdade, tumultua um pouco minha vida pessoal. Mas o sacrifício vale a pena. Não dá para desprezar a experiência de fazer um programa que alcança quase 50 pontos de audiência. Estou aprendendo muito.
Folha - Aprendendo o quê?
Lillian - Como selecionam as notícias, qual o tempo que reservam para cada reportagem, de que maneira aproveitam os correspondentes e os assuntos internacionais. Um exemplo: durante a semana passada, o "JN" não mencionou a queda recorde do peso mexicano. Eu mencionaria no "Jornal da Globo".
Folha - Por quê?
Lillian - Porque é um fato que interfere pra caramba na vida do telespectador brasileiro, na vida do meu público.
Folha - E qual o motivo de o "JN" não falar nada?
Lillian - Não sei, é uma decisão deles. Estou só observando.
Folha - A linha editorial do "JN" mudou depois de julho, quando Alberico de Sousa Cruz deixou de dirigir a Central Globo de Jornalismo?
Lillian - Mudou sim. Acho que é uma decisão da empresa modificar a linha editorial do jornal.
Folha - Modificar como?
Lillian - Vou dar a minha impressão. Sinto que, hoje, o jornal dá menos notícias do governo. Há um número maior de reportagens sobre saúde, por exemplo. É ótimo porque o público está preocupado com saúde, com dinheiro. Não se preocupa tanto com os políticos, com o Congresso.
Folha - Às vezes, você faz comentários durante o "JN", atua quase como um âncora. Outras vezes, se limita à função de locutora. Por quê?
Lillian - Só faço comentários quando o Amauri Soares (editor-chefe) me pede. Os temas são sempre econômicos. O Amauri pede, eu digo: "Pois não." Vou para o telefone, converso com meus informantes e redijo a nota. Mais nada. Não interfiro na produção do jornal. Minha função é de apresentadora. Só fujo disso quando me autorizam.
Folha - Você se sente bem como locutora? Não a incomoda simplesmente apresentar sem participar da produção?
Lillian - Olha, confesso que estou morrendo de saudade do "Jornal da Globo". É mais divertido.
Folha - Divertido?
Lillian - Eu prefiro. Só sei trabalhar feliz, não é? Nada me frustra mais do que levar para casa uma informação que não consegui dividir com o telespectador. Fico aborrecida se tenho uma informação importante e não encontro veículo para divulgá-la. No "Jornal da Globo", posso controlar isso. No "Jornal Nacional", não.
Folha - Já aconteceu de você ter uma informação importante e não poder dar no "JN"?
Lillian - É, às vezes tenho uma informação e não dou no "Jornal Nacional".
Folha - Por quê?
Lilian - Não dou porque não cabe, não é o estilo do "JN", é o estilo do "Jornal da Globo". Então, confesso que estou morrendo de saudade de voltar a fazer o meu jornalzinho do jeito que faço.
Folha - No "JN", você se sente como um cabide da notícia?
Lillian - Não, não é por aí. Estava habituada com outra coisa. Há quatro anos, faço um jornal inteiro: participo da produção, escrevo alguns textos, apresento, comento. De repente, muda tudo. Chego à emissora e tenho que me preocupar apenas com a locução. É muito diferente -tanto que saio do estúdio relaxada. Depois de fazer o "Jornal da Globo", continuo tensa. Demoro quatro horas para me acalmar e dormir. Já tentei dormir mais cedo, às 2h em vez de 5h, 6h. É pior. Acordo o tempo inteiro e fico repassando o jornal daquela noite na minha cabeça. No "Jornal Nacional", trabalho bem menos do que costumo. Saio de lá toda zen, em paz.

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