São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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O risco da efemeridade

ANA MARIA QUADROS

Quando se fala em reforma de ensino, vem logo a pergunta: "Que escola queremos?" A expectativa da sociedade em geral é de que a escola ofereça condições para que os educandos aprendam a conhecer o mundo, analisar, criar, julgar, decidir, exprimir seus pensamentos e sentimentos, colocar-se no lugar do outro, respeitar as minorias e contribuir para a realização do bem comum.
Que tipo de reforma de ensino se apresenta como a mais adequada para responder a essas expectativas? A meu ver, tanto a escola que oferece cursos de educação infantil, fundamental e médio em um único estabelecimento, quanto aquela que destina prédios diferenciados para crianças, jovens e adultos podem atender essas expectativas.
Há vantagens tanto em um tipo de organização escolar quanto no outro. No caso de separação das crianças, dos jovens e adultos, pode-se oferecer sala de aula, pátio, equipamento e material pedagógico específico, convivência com colegas de uma mesma faixa etária, com necessidades semelhantes, e condições para que os professores possam usar uma metodologia de ensino própria a cada idade.
Por outro lado, há também vantagens para a coexistência de diferentes cursos em um mesmo prédio. Nessa segunda hipótese, pode-se fazer um planejamento de ensino integrado nas diferentes séries, encontrar uma riqueza de experiências na convivência de diferentes faixas etárias e impedir que futuras reformas educacionais venham impossibilitar a garantia de continuidade dos estudos dos alunos.
Por ser a educação necessidade básica da população, os movimentos populares, os sindicatos dos profissionais da educação, lutam com todas as suas forças para participar das decisões sobre a vida da escola pública, para garantir que qualquer proposta de mudança atinja as expectativas já citadas.
O tipo de organização escolar, por si só, não é determinante da qualidade de ensino. Estudiosos apontam como condições imprescindíveis para que ocorra a melhoria da qualidade de ensino que sejam aplicados na educação recursos financeiros suficientes para que haja prédios escolares em boas condições e equipados para atender a todos os alunos e diversidade e quantidade suficiente de material pedagógico para que o professor consiga motivar seus alunos e estimular sua criatividade.
Também é muito importante a condição de trabalho que se oferece ao professor. Ele deve ter um horário destinado ao atendimento dos alunos, dos pais, à preparação e correção dos trabalhos escolares, às reuniões pedagógicas, à atualização profissional e também ter um salário justo que dignifique seu desempenho. Para o bom funcionamento da escola há necessidade de que o quadro de funcionários de apoio esteja completo e com um salário justo. Sem a garantia da existência dessas condições poderá, infelizmente, ser mais uma reforma com a duração de apenas um governo, como foram muitas nestes últimos anos.

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