São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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A desconstrução civil

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O sindicato da indústria da construção civil (Sinduscon) divulgou na semana que passou que mais 30 mil trabalhadores perderam seus empregos no setor no mês de outubro no Estado de São Paulo. São quase 90 mil postos de trabalho a menos nos últimos 90 dias.
Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon, confessa-se estarrecido que a opinião pública acompanhe essa perda de empregos sem reagir ou pedir providência.
As razões para essa contração no emprego são conhecidas: falta de financiamentos imobiliários, juros muito altos nas poucas linhas de crédito existentes, enorme corte nos gastos com obras públicas e falta de pagamento das dívidas para com as empreiteiras contratadas nos governos passados.
Não há formas de se reverter esse quadro no curto prazo. Se alguma coisa começar a ser feita brevemente, para meados do ano vindouro o setor da construção pode voltar a contratar.
Ainda assim, a construção civil no Brasil merece um debate mais sério. Temos um enorme déficit de casas populares nas grandes cidades (substituídas pelas favelas): com financiamento a juro baixo e prazo longo, mesmo as famílias de baixa renda se credenciariam à compra da casa própria.
Por que, em vez de se subsidiar a fusão de bancos, não se subsidia a compra de casas populares?
A experiência do antigo Sistema Financeiro da Habitação merece ser resgatada. Em meados dos anos 70, o BNH chegou a participar, direta ou indiretamente, do financiamento de cerca de 500 mil moradias por ano.
Mas as mudanças demagógicas feitas nos anos 80 (abatimento da correção monetária dos saldos devedores, não importando se o emprestador era pobre ou milionário) levaram todo o sistema à falência. O custo da demagogia é este: acaba recaindo sobre os mais fracos.
Todos os países industrializados incentivam o financiamento imobiliário com a depreciação acelerada ou com abatimento de parte dos custos no Imposto de Renda. Se se deseja que a construção aqui absorva os excedentes de mão-de-obra que ainda serão deslocados do campo para a cidade, será preciso reconstruir um sistema de financiamento amplo e acessível aos mais pobres.

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